quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

NÃO FOI DESSA VEZ


Ilha do Tamanduá (Arquivo JRS)

               De vez em quando eu sou interpelado por alguém a respeito de um município que era para ser. Onde? Entre a Praia Dura, a partir do rio, até a Praia do Capricórnio, onde está a Lagoa Azul. Ou seja, separando Ubatuba de Caraguá ficaria o município da Costa Verde. Espera aí: Costa Verde não é um condomínio, na Praia da Tabatinga? Isso Mesmo! Assim apareceu no jornal Folha de São Paulo, Costa Verde-Tabatinga: um Momento Histórico foi o título da matéria no dia 6 de novembro de 1977:

               Empresários brasileiros, liderados pelo Sr. Francisco Lopes, estiveram nesta Capital [Paris] para apresentar a banqueiros e investidores europeus o importante empreendimento imobiliário e de lazer que um dos maiores grupos financeiros da Europa está concretizando no Litoral Norte do Estado de São Paulo: Costa Verde.
               Costa Verde fica entre Caraguatatuba e Ubatuba e será um dos maiores centros de lazer do mundo. O grupo financeiro europeu que o está realizando já destinou todos os investimentos necessários à sua concretização.
               A finalidade do encontro, realizado no Maxim’s, e que contou com a presença do embaixador Delfim Neto e de cerca de 100 convidados, representando alguns dos mais importantes grupos financeiros da Europa, foi motivar novos investidores, abrindo, assim, para o Brasil, uma nova frente de progresso e se transformando na semente de outros projetos em nosso país.

               E a matéria, além de citar grandes personalidades do mundo financeiro, políticos, grifes famosas etc. informa ainda que “o prefeito de Saint Tropez, Bernard Blust, declarou-a a Cidade Irmã de Costa Verde-Tabatinga. O ato que une assim, fraternalmente, o empreendimento brasileiro a este importante centro turístico foi encarado como uma demonstração de entusiasmo que o Projeto Costa Verde está despertando na Europa e no Brasil.  
                 Mas como, se nem cidade era?
               Onze anos depois, a nova Constituição Brasileira acenou para a possibilidade de criação de novos municípios. Então, acho que motivado pela atitude do prefeito francês, apareceu um movimento Pró-Emancipação do município da Costa Verde. Quem liderava o movimento era o administrador do Condomínio Costa Verde, o engenheiro Agrício Brasilino e sua esposa Valéria, que anos depois foi minha colega de curso no Módulo (faculdade), em Caraguá.  O argumento principal era a falta de infra estrutura, onde os altos impostos cobrados não se revertiam em nenhuma melhoria.

               Eu tive o interesse de acompanhar algumas reuniões, quando José Nélio era prefeito de Ubatuba. Tudo era muito confuso, mas o centro do novo município seria Maranduba. Ainda tenho um folheto de campanha do movimento Pró-Emancipação:

               Divulgue nossas ideias, mostre o futuro melhor que podemos ter. Compareça às reuniões, traga a família, os amigos; traga até mesmo aquele que é contra, para que ouçamos seus argumentos e debatamos. Ajude na confecção de faixas, distribuição de panfletos, realização de eventos, arrecadação de fundos. Participe da Comissão!
               O que mais me chamou a atenção era que “o município contará com verbas do IPTU, ISS, outras taxas e impostos municipais normais, além dos repasses estaduais e federais e, possivelmente, ajuda dos movimentos ecológicos do país e do exterior, que já se manifestaram neste sentido”.

               Ao ouvir, por ocasião da reunião no Sapê, que os milionários do Condomínio “estão dispostos a ajudarem no que for possível”, me lembrei de um dizer antigo: “Neste pau tem mé”. Quer dizer que tinha um interesse maior que não era explicitado. Na verdade, eu já estava ressabiado desde quando conheci o Zé Palmeira, em 1980, um homem terrível para os caiçaras da praia da Ponta Aguda. Ele era conhecido como “capataz da Costa Verde”. Era o tal que dava tiros, soltava o gado nas plantações dos caiçaras, ameaçava etc.

               Enfim, não vingou o município da Costa Verde. Mas tentaram de verdade!

3 comentários:

  1. Olá José Ronaldo! Hoje, navegando pela net (sem rumo certo em tempos de pandemia), me deparei com o seu texto e quero fazer uma pequena interferência. Nem eu e nem meu esposo encabeçavamos o movimento, mas enquanto administradores do Costa Verde Tabatinga na época, representavamos os moradores e associonistas. Em minha opinião poderia ter nascido um dos melhores municípios do litoral Norte, pena que as pessoas não seguiram adiante. Quem sabe hoje não teríamos um novo modelo de gestão ou um modelo diferente do que temos atualmente.... quem sabe?! Abraços.

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  2. Olá, Valéria! Que bom que este texto continua sendo visitado! A informação constava de um folheto daquele tempo, distribuído no bairro. Abraços.

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  3. Pensando bem, você bem que poderia fazer um texto para eu publicar sobre toda o movimento e os planos para a Costa Verde.

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