Ponta da Fortaleza (Arquivo JRS) |
Eu e o Oliveira (Arquivo JRS) |
Olho
o mar, mas olho com mais interesse as matas, as costeiras. Busco avistar as
modificações e confirmar aquilo que permanece nas minhas lembranças. “Lá está o Saco do Zacarias. É onde morava o
tio Zacarias da Ponta antes de se mudar para a praia das Sete Fontes. Mais
tarde acabou a sua vida na praia do Perequê-mirim. Tá vendo aquela água que
escorre na Pedra Preta? É uma água muito boa, marcou muito a minha infância,
quando eu vivia correndo pelas pedras. Que refrescante que era! Ali perto, note
bem, tem o Papo do Passarinho. Na verdade é um galho de araçarana, onde está
grudado um cupinzeiro muito antigo. Formou uma imagem muito bonita em cima da
costeira. Certamente que é habitado ainda por cupins, senão... não existiria mais. E Olha
a Ponta!”.
Tais
referências são para poucos que conhecem bem a região da Fortaleza, praia da
minha infância. Agora é lugar de muitos turistas. Do pessoal antigo, poucos
restaram. Sempre será um prazer encontrar com o Oliveira e ter “um dedo de
prosa”:
Agora estou com 94 anos. Todo dia faço a minha caminhada desde a Praia Brava até aqui. A Fortaleza é a minha vida. Nela
eu me criei, me casei... Pesquei muito e sempre tive o meu eito de roça. A
minha primeira mulher, a Filomena, era muito trabalhadeira, enfrentava qualquer
tarefa. A nossa casinha era ali no jundu, na vizinhança com o vosso tio Maneco
Armiro. Perto de nós morava o Mané Bento, irmão da Filomena. Morava sozinho,
ele nunca se casou. Era muito intiqueiro. Em tempo de maresia brava, no mês de
agosto, a espuma da arrebentação das ondas chegava até o nosso cisqueiro, onde
estava o varal de roupas. Depois, conforme você sabe, enviuvei, vendi a casa e
me mudei para a Praia Brava. Logo me casei de novo.
Conhecendo o
Oliveira, sabendo da sua disposição em brincadeiras, em gozações, perguntei se
continuava namorando ainda.
É claro, meu filho! O quê? Quer coisa melhor
que continuar tendo saúde para manter a brincadeira com quem você gosta?!? Estou
com 94 anos, mas ainda faço bonito! Só que não é mais todo dia, né? De vez em
quando a mulher faz um bilu-bilu no gigante que dorme em berço esplêndido... Ele
acorda... e... olha que dá trabalho o sujeito! É muito bom, né? Graças a Deus
tenho muita saúde! Uns tempos atrás estava sentindo umas dores na coluna, fui
num médico em Caraguá e ele deu um jeito, me deitou numa cama que estica a
gente. Até escutei os estalos, parecia que ia me romper, separar a minha cabeça
do restante do corpo. Mas deu resultado, viu?! Agora é só alegria! Ando pra lá
e pra cá, me dobro, me estico. Tá tudo bem assim.
Ah, o Oliveira,
um dos companheiros do saudoso vovô Armiro!
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