quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

MUITO AGRADECIDO, ADÃO!

Desembarque de peixes no Caisão  de Ubatuba (Arte: Da Motta -Arquivo JRS)


               No começo da década de 1980, no Bazar do Compadre, eu conheci Adão. Mais tarde soube que ele está em Ubatuba desde 1976, quando veio de Caraguá. Grande Adão! Desde que o conheci, sempre esteve no comércio de artesanato, com loja bem ao lado da Igreja Matriz. De certa forma, a sua loja era um dos nossos pontos de encontro para boas prosas. Agora, já tem um tempinho, Adão se aposentou, curte a sua moradia, a sua moto e as suas plantas... De vez em quando sai para uma pescaria, sua grande paixão. Dias atrás, conforme o prometido há muito tempo, fui lhe fazer uma visita. Conversamos de tudo, vimos fotografias antigas, recordamos de muita gente boa e de muitos momentos bons que vivemos. É bom ter amigo assim!

               Adão também sempre produziu artesanato em conchas. Tem um estoque delas em casa, nas prateleiras, mas diz que atualmente não está compensando negociar. “Pode ser que um dia eu volte a fazer os meus trabalhos. Tá tudo aí guardado”. De repente me veio à mente que, era na loja dele que eu adquiri alguns trabalhos do saudoso Mestre Da Motta, sempre na intenção de presentear pessoas especiais. “Da Motta era o meu preferido. O seu estilo, as tintas, as cenas da nossa realidade, da nossa cultura”. Então perguntei ao Adão se ele tinha ainda algum trabalho do Da Motta. “Tenho dois quadros que estão com o Rui. Ah! Tenho outro aqui, mas só a tela, pois a madeira se estragou”. E nesse momento vai até o cômodo ao lado à procura da relíquia. Logo volta e me estende uma tela: “É para você. Até hoje eu não tive oportunidade de esticá-lo, mas está perfeito. Com você eu sei que estará em boas mãos”. Eu me emocionei ao receber o presente. Trata-se de uma pintura, da paisagem do Caisão, provavelmente do final da década de 1970 ou começo de 1980, quando era desembarcado pescado ali, principalmente sardinhas. As pessoas, sobretudo os mais pobres, iam até lá e ganhavam peixes dos embarcadistas. Eram balaios e mais balaios lançados dos porões para serem repartidos sobre o cais. As pessoas saiam com sacolas e balaios abarrotados, bem felizes.
               Agora a estimada imagem está na minha parede. Valeu, Adão! Viva o nosso Da Motta!

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