Adeus, Genésio (Arquivo JRS) |
Parece que
foi ontem que eu ouvi o Seo Genésio falando da sua história, do povo do Camburi
e das lutas pelas melhorias do seu lugar.
“Vamos lá, meu filho. Depois da cachoeira é só subir o morro para chegar onde
mora o Seo Genésio e Dona Irene. Estamos quase chegando”. Era o ano de
2007. E lá fui eu e o meu irmão Jairo conduzindo o meu filho Estevan ao Camburi, para conhecer um
respeitável líder caiçara: Genésio dos Santos. Depois da acolhida com café e
mandioca cozida, fomos à roça. Grande homem ganhando, no mar de capim, as
grimpas do morro, de onde se avistava toda a praia. Grande Genésio!
Genésio da
prosa sentado no banco, da foice no ombro morro acima, carregando lenha, carpindo
o mandiocal... Genésio, descendente de Josefa, moradora da toca na mata, a primeira a fugir da escravidão das
fazendas.
Genésio de
idas e vindas, sem medo de falar até mesmo na Assembleia Legislativa do Estado
de São Paulo:
“Como eu disse lá,
eu disse lá para os deputados: Nossos deputados, todos quantos estão nos
ouvindo aqui nesta tarde, aqui na Assembleia, que é a casa das leis, escutem
aqui, quero fazer uma pergunta para os senhores: Eu, ou os senhores que estão
aqui, ocupam um lugar de ser um policial, um sargento, um tenente, um capitão,
um major... um comando. E o senhor tem os seus empregados. Então: eles estão
para fazer as leis ou desfazer das leis? Eu achava por bem que, eu ocupando um
cinturão na minha cintura, o revólver na cinta, uma algema, eu vou trabalhar no
clube da lei, no certo da lei; não desfazer da lei. Então foi o que aconteceu
no Camburi sobre o Parque, sobre a Reserva. Eu quero falar para os senhores que
a Reserva, um Parque, eu, no meu conhecimento, no meu tipo de viver, no meu
conhecimento – nada eu sei – mas tem que ser uma reserva para os insetos, para
os bichos; a conservação para os animais, de bichos, né? Não pode ter moradores
nenhum, não pode ter moradores. Agora eu digo para os senhores: o Camburi tem
habitação há mais de trezentos anos. Tenho certeza do que estou falando aqui na
mesa: há mais de trezentos anos! Foi reconhecido já, há mais habitação que foi
do tempo dos escravos ali no Camburi. Agora pergunto aos senhores: há mais de
trezentos anos reconhecido. Agora, lá, o Parque lá, assubiu há quinhentos,
trezentos anos? Não. Não".
Genésio, pescador, agricultor e soldado da Força Pública nos idos
distantes. Genésio que viu a estrada (BR- 101 – Rio-Santos) ser aberta, dando
espaço para os condomínios fechados, para as mansões que ocupam os morros desde
então. Genésio que testemunhou a expulsão de muitos caiçaras de suas posses,
que viu as encostas sendo ocupadas desordenadamente e esgotos e lixos ganhando
o mar, as praias...
Genésio
de Josefa, de Basílio, de Cristina: noventa e dois anos de luta neste chão
caiçara. Genésio: guerreiro da cultura caiçara. Muita força, Dona Irene. Sinto muito pela perda. Com carinho. Zé e família.
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