sábado, 10 de janeiro de 2015

PRA ONDE FOI A ÁGUA DO RIOZINHO DA ENSEADA?

         
Praia da Enseada, a partir do morro do Perequê-mirim (Foto: Jorge Luiz de Oliveira) 
  
    

     Os últimos textos publicados versam a respeito da Praia da Enseada, cuja fama turística se consolidou na década de 1970. Primeiro veio a poesia da Maria Odila, depois o texto do Zé Carlos. Agora, relendo as páginas do blog canoadepau, do amigo Peter Németh, creio que é a ocasião de aprofundar nossas reflexões, sobretudo em torno do tema da etnobiodiversidade, da importância da cultura local na preservação do meio ambiente. Afinal, não é difícil encontrar, entre os cinquentões, esse consenso do atrativo dessa praia.  "Era a praia mais frequentada de Ubatuba, o paraíso dos sorveteiros. Nela surgiram os primeiros bares de praia, tais como o Rancho do Araca, Bar da Zenaide, do Luiz Servino". "Ali, no lagamar da Enseada, quase sempre tinha gente catando sapinhauá para comer". E o que é esse ambiente hoje? Em suma: um rio desapareceu, estradas surgiram, áreas naturais foram aterradas e edifícios tomaram conta do jundu e dos morros num período muito curto de tempo. Assim como, num breve espaço de tempo, ninguém mais fala do Armazém do Maciel, do Presídio da Ilha, do Bar dos Inocentes, da Capela Santa Rita etc. Disso tudo nascem os questionamentos:


        Entre as duas fotos abaixo, existem 57 anos de diferença. Ambas foram tiradas na mesma margem esquerda do Riozinho da Barra do Destacamento, na Praia da Enseada em Ubatuba.
        Em 1956, canoas faziam a carga e descarga dos barcos de cabotagem que traziam mantimentos da cidade de Santos. O porto ficava na Rua Luzia Maciel Leite, próximo ao número 97, na Praia da Enseada. Pescadores mais antigos relatam os pequenos cardumes de tainhas que podiam ser capturados na lagoa que o rio formava, camarões de água doce enormes (cafulas e pitus), robalos, etc. O rio tinha até barranca, de onde podia-se saltar na água morna que o perau represava. 
      Nesse tempo (antes da estrada) alguns caminhõezinhos que se aventuravam entre Ubatuba e Caraguá, tinham que usar a areia da praia como estrada e a molecada caiçara ficava esperando para ajudar a desatolar o corajoso fretista que ousasse enfrentar o rio na maré errada. São várias histórias de recompensas, às vezes ganhas, outras "ganhadas", pacotes de café, balas, cigarros. Mas a imagem campeã, é a de um bando de crianças flutuando no riozinho, cada um com a sua bola de mortadela!
       Hoje, o rio virou filete de água, ou melhor de esgoto. As tainhazinhas ainda resistem, mas são mini tainhas de 2 centímetros cada, lutando pela vida igualzinho às adultas, é incrível observá-las em seus mini-cardumes. (Breve farei um vídeo com essas mini-tainhas).
       Pra onde foi a água do riozinho?! Será que foi desviada lá na nascente para abastecer as caixas-d'águas de veraneio? Ou será que está canalizado pelo emissário submarino, nosso rio encanado?
       Muito brejo também foi aterrado para gerar terrenos comercializáveis e isso com certeza "imprensou" a água que não aflora mais. E não foi só na Enseada que isso aconteceu, nas Toninhas tinha a barra do Rio Jacundá, mas isso já é uma outra história, para um próximo post.


Fotos: Barra Nova - Cristina Prochaska; 

           Barra Velha - Paulo Florençano.
Fonte: canoadepau.blogspot.com

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