Lá vem o Sol, gente! (Arquivo JRS) |
Em
meados da década de 1970, quando eu vivia no Perequê-mirim, descobri o mundo
das letras. Os amigos mais próximos trocavam gibis e revistas, ou seja, todos
liam tudo. Não era muito devido a nossa limitação financeira, mas ficávamos
contentes. Em casa, tinha fila para quem iria ler na sequência: “Oba! Gibi do
Fantasma! Eu primeiro, você depois”. “Agora é a Ana que tá lendo a revista Capricho
[fotonovela], mas depois serei eu”. “Eu já tô lendo o gibi da Brotoeja, mas em
seguida eu quero o do Topo Gigio”. Era um tempo em que tínhamos aulas até aos
sábados. Na verdade, sábado era dia dedicado à leitura. Sábia professora que
nos proporcionava isso!
Os
filhos e filhas do Dona Celeste e do Seo Zé Maia eram os que mais se dispunham
a trocar tão valiosas mercadorias. O Odilon era o meu melhor parceiro de leituras. Era
por isso que a distância entre as nossas casas, em torno de quinhentos metros,
parecia até varrido de tanto que por ali passávamos. Papai dizia que era como “carreiro
de formigas feito pela criançada”. Era nesse percurso que costumávamos rir com
as lorotas do Zé Pretinho (ou Yêieca), com as trapalhadas do Janguinho da
Jovina e com os conselhos da Dona Jacinta e do Seo Tomás. Ah! A Dona Maria
Graça sempre nos presenteava com bananas maduras e jacas!
Conversando
num dia desses com a amiga Odila Maia, fiquei sabendo de suas participações
nos primeiros concursos de poesia. Ótimas reminiscências! “Eu ainda tenho lá em
casa cópias daquelas poesias, Zezinho!”. Imediatamente supliquei-lhe que desse
um jeito. Desse modo, posso apresentar:
LEMBRANÇAS
Ah! Que saudade tenho
Das tardes ensolaradas!
Eu, criança ainda, a contemplar
Esta praia, este mar, esta paz
que só você tinha.
Enseada, coração de Ubatuba,
Em que toda tarde eu ficava a te
olhar.
O Velho Fabiano, esguio em sua
canoa, a remar;
O Velho Chico Viola, com sua
viola a cantar.
Era tudo simples e tão puro.
Tranquilidade era o que existia
ali.
Já não existe mais cantador de
viola,
Nem canoeiro a remar.
O progresso passou por aqui
E o que restou de ti, Enseada?
Simplesmente as lembranças das
tardes ensolaradas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário