João Zacarias, neto (Diógilei) e bisneto (Isaac) (Arquivo DT) |
O
vovô Estevan sempre gostou de pescar. Chegando a velhice, esse prazer não se arrefeceu. Ele, sem dúvida alguma, foi um parceiro fiel do João Zacarias até
quando a saúde lhe permitiu. Era comum eu chegar na casa dos meus avós e escutar a
vovó falar: “O vosso avô está puxando rede com o João Zacarias. Logo ele chega". A
Praia do Sapê era o ponto de encontro deles. Ah! Quantas redadas eu presenciei
e sou testemunho do tanto que era animada aquela turma!
Hoje,
é com muita alegria que apresento o texto do Diógilei Tadra, neto do saudoso
João Zacarias. Espero que venha mais! Afinal, é um prazer saber e dar a conhecer mais coisas do
meu povo. É um registro para nós e para as novas gerações.
A minha infância e adolescência foi muito ligada ao mar, às pescarias, redadas de tainha e parati, pois meu avô, bisavô, tataravô... foram tradicionais caiçaras, pescadores natos, que viviam basicamente da agricultura familiar e principalmente da pesca. Meu avô, por exemplo, que eu "arcancei" (vivi com ele) tinha barco, redes de tainha e de parati, peixaria, enfim, vivendo em função do mar.
Sempre íamos, de madrugada ainda, pra "beira do lagamá", (praia) "espiá" (olhar) "os cardume de peixe". Na "épa" (época) da tainha, os olheiros ficavam de prontidão no ponto mais alto da "preia" (praia) para que, quando avistasse um cardume, dessem o sinal com uma camisa enrolada na mão, para lançar a canoa na água e cercar o peixe. Tudo tinha que ser muito rápido e em silêncio pra não "espantá" o cardume. Esse foi, por um bom período, minha vida, baixando o chumbo na praia ou soltando a tralha de chumbo na canoa.
Certo dia, à tarde, veio a notícia de que na Praia do Pontal, na Lagoinha, tinha um enorme cardume de tainha que fazia um escuro de dar medo, na rebentação, a ponto de cerco. O mar calmo e a ocasião certa para "matá mais de cento" (pescar muito peixe). A buzina da caminhonete rural soou freneticamente para juntar os camaradas para ajudar a puxar a rede. Chegando lá, quase em frente a Ilha do Pontal, finalzinho da tarde, o cardumão foi avistado, ora boiava, ora afundava no mesmo lugar, uma redada de "lavar a égua". Cerca, não cerca, não é, é, uns diziam que era, outros diziam que não era, enfim, a rede foi lançada e o cardume cercado. O dia, quase escurecendo, começam a puxar a rede. Dali a pouco, começam a aparecer os primeiros peixes, um bagre aqui, outro ali, vem mais um e mais um...Uma redada de bagre gonguito!! Pra quem conhece, sabe que o bagre tem três ferrões e é dificílimo tirá-lo da rede, tem que quebrá-los, pois embola tudo; é fácil de entrar, mas difícil de arrancá-los. Por fim, ficamos a noite inteira tirando bagre da rede. Foram uns vinte tabuleiros (caixas) cheios e a rural lotada também!! Teve gente que comeu bagre o mês inteiro... Quando terminamos de embarcar a rede na canoa, já eram 7 horas da manhã.
O meu irmão de São Paulo, jovem ainda, de férias em casa, estava também conosco na inesquecível redada, quando a rede encostou na praia com aquela enorme quantidade de peixes, disse ao vô Zacarias: "Acertamo, hein vovô!!!" A risadaria foi geral...Mal sabia ele que iríamos passar a noite inteira tirando ferrão de bagre da rede...
Durante muito tempo, quando alguma pescaria não dava muito certo, tinha sempre alguém que dizia: "Acertamo, hein vovô!!"
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