Sol bem cedo (Arquivo João Ricardo Júnior) |
Ainda
bem que deu tudo certo!
Há
três dias, juntamente com os amigos Jorge, João e Evalci, tornei a visitar a Ilha
do Mar Virado, em Ubatuba.
A
Ilha do Mar Virado faz parte da minha história por parte da mamãe, da Praia da
Fortaleza. De lá era a Tia Gaidinha, a minha bisavó - a segunda esposa do Nhonhô Armiro. De lá era a
Maria Barbina, a parteira, mãe do Arcide, do Eugênio Inocêncio e tantos outros.
De lá era o João da Varge, o Lourenço da Ilha, o Calixto, a Dulcinéia, o
Germano e tantos mais. Lá está a base de novas
gerações que estudam ou estudaram em outras terras distantes, se
tornaram profissionais nas áreas de fisioterapia, arquitetura, agronomia etc.
(Me refiro aos descendentes da tia Maria do Bernardino). Daquele lugar, onde tantos umbigos foram enterrados,
tem gente por muitos outros países (O Almirinho vive há anos em Singapura. A Dulcinéia
tem uma filha na Holanda). De lá saíram tantas pessoas honestas que agora
povoam a minha memória. De vez em quando avisto algumas delas e penso: “Será
que elas sabem de suas origens, dos nossos antigos vivendo e plantando na Ilha
do Mar Virado?”.
Cresci
pescando por ali com o vô Armiro e com o papai. Aquelas lajes são todas
conhecidas minhas desde o tempo criança. Por ali eu vi o maior cardume de botos
na minha vida! Quantas espadas, cavalas, sargos etc. eu apreciei a partir
dali!?! Ali, entre a Ponta da Fortaleza e a Lage de Fora, dei os meus primeiros
mergulhos e vi as maravilhas do fundo do mar. Papai me acompanhava bem de
perto.
Os
mais velhos, que não moravam na ilha, mas nas adjacências (Fortaleza, Praia da
Deserta e do Cedro), até a década de 1950 tinham por lá as suas roças.
Atravessam de canoa, faziam os seus ranchos apenas para passar a semana e
cuidar da plantação. O motivo? Nas terras do continente as saúvas destruíam tudo.
Na ilha não havia tal problema. A tia Maria do Genésio dizia que o único medo
era das jubartes, abundantes numa determinada época do ano, quando estavam com
crias novas. É que elas, descuidadamente, podiam virar canoas. A vovó Eugênia assim dizia: "Lá morava muita gente, menino! A Folia do Divino levava três dias em cantoria por lá".
Recentemente,
a partir dos estudos nos sambaquis da Ilha do Mar Virado, podemos afirmar que,
antes do índios tupinambás, já viviam por aqui outros seres humanos. Os achados
(ossos, utensílios...) permitem uma certeza: há mil e duzentos anos atrás tinha
gente desfrutando desse pedaço de chão. Então, naquela ilha estiveram os nossos
antepassados mais antigos.
Voltar
e dar a volta em torno da Ilha do Mar Virado foi um reviver em partes da minha
história! Mesmo que a pescaria prevista não tenha sido a contento, creio que os
meus bons companheiros desse dia adoraram a paisagem, a paz e o banho em águas
tão límpidas. É isso! Valeu o dia que vivemos juntos!