Seo Martins, da Trindade. (Arquivo Eric Porto) |
Há
alguns dias atrás fomos surpreendidos por uma visita agradável, um beija-flor
passou a fazer ponto em frente nossa janela. Quando acordava ao abrir a janela
lá estava ele, sentado no fio do telefone do vizinho que passa próximo. O passarinho
dava um pequeno e curto voo rasante e logo voltava. A curiosidade bateu forte e
passei a querer saber por que ele não saía dali. Eram todas as manhãs e tardes,
e não consegui descobrir o porquê de ter escolhido esse lugar. Afinal, não
tinha nenhuma flor ou bebedouro e era apenas um
beija-flor .
Enquanto
varria a varanda, ao olhar para a laranjeira que tenho em minha casa, notei
algo diferente, que me fez voltar ao passado e lembrar do meu avô, Seo Martins.
Era um velho caiçara nativo de Trindade-RJ, um grande guerreiro defensor dos costumes e tradições de um povo que aos poucos vão se perdendo no
tempo.
Eu
era pequeno, mas lembro como se fosse hoje, quando chegávamos na sua velha
morada, casinha de pau a pique muito aconchegante. Era notória a alegria com
que recebia os amigos, mas principalmente os netos. Ele
pegava uma pindaíba (caniço ou vara pra pescar) e também um bonito apodrecido, “moído”
como ele costumava dizer, e corria providenciar a mistura para o almoço. Não
demorava muito, vinha ele com quatro garoupas de encher os olhos de qualquer
pescador. Vem-me água na boca só de lembrar aquela posta de garoupa com banana
verde, o nosso tradicional azul marinho:
-
Vamos fazer um escardado pra daqui a pouco.
Minha avó costumava sempre cozinhar umas
mandiocas para o café da tarde e socava no pilão outras, deixando para os
passarinhos comer. Esse cuidado mantinha o quintal colorido de aves, que já
contavam com a refeição proporcionada por vovó. Meu avô também era defensor dos bichinhos, gostava tanto deles que junto a
casa tinha um poço de água corrente feito por ele através de um desvio da água
da cachoeira, onde minha avó lavava louça, roupas e onde ele consertava os
peixes .Nesse poço ele passou a criar uma lagosta ou pitu, aquela toda listrada
de preto, que um dia ele havia pego para servir de isca para pescar e resolveu criá-la no poço. Apiedou-se
do bichinho e deixava claro que não podíamos matá-la. Era a ordem dele para
todos os netos.
Hoje,
quando desvendei o mistério do beija-flor e, ao olhar a laranjeira, o vi a
alimentar o seu filhote, lembrei - me de sua preocupação com os bichos, veio à
memória quando eu chegava em sua Casa com o meu bodoque, ele me dizia:
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