segunda-feira, 15 de setembro de 2014

LENDAS CAIÇARAS - A GRUTA QUE CHORA

Painel de escola (Arquivo JRS)

           
                No ano passado, conduzindo uma turma de adolescentes até a Praia da Sununga, me deparei com uma realidade: poucos deles ouviram falar de uma lenda que envolve essa praia, a gruta que fica no canto esquerdo. “É uma tal história de serpente, né? Como é que é mesmo?”
             Eu até já contei uma primeira versão dessa lenda! Hoje, recorro ao trabalho do Seo Filhinho para a adaptação a seguir.

                “Marcelina, uma caiçara adolescente que morava nas cercanias da Praia da Sununga, de repente pareceu aniquilar-se, comendo pouco, sem ânimo para nada. De nada valiam os banhos, benzimentos e remédios da cultura local. Diante da preocupação da mãe e de outras pessoas que gostavam muito dela, ela tentava acalmá-las.

                Dias se passaram, tristes e apreensivos, até que certa madrugada, de seu quarto a mãe escutou soluços e palavras desconexas. ‘Não vá. Não...não quero...espere...’ Ao acordar em lágrimas e vendo a mãe sentada em sua cama, Marcelina se abriu: ‘Sabe a história daquele bicho que mora na Toca da Sununga, que diz que ninguém pode passar por lá sem provocar a sua ira, deixando o mar revolto e impedindo o trabalho dos pescadores? Pois é! O Seo Antero, lá da Praia das Sete Fontes, disse-me que viu, numa noite o tal bicho: do meio pra cima parece o dragão que tem no quadro de São Jorge, o resto do corpo parece de uma cobra. Foi milagre ele não ter sido devorado naquela noite. De lá pra cá eu tenho sempre a impressão que esse bicho me segue. Numa noite, há alguns meses, aconteceu uma coisa bem estranha: o bicho, do jeito que o Seo Antero descreveu, entrou no meu quarto. Eu queria chamar a senhora, mas não consegui soltar a fala, nem correr. De repente... aquela coisa feia se transformou num moço bonito e ficou comigo até o galo cantar três vezes na madrugada. Dessa noite em diante ele tem vindo ficar comigo. Agora mesmo eu estava chorando porque não queria que ele fosse embora. É por isso que eu não tenho vontade de mais nada, a não ser ficar pensando nele’.

                Depois de algum tempo dessa revelação, passando por sua casa um velho monge, a mãe contara os tormentos da filha e de todos os familiares. Era comum naquele tempo desabafar com alguém da Igreja e se sentir aliviado. Na verdade, aquele homem era um padre que revelou: 'o padre José de Anchieta, antes de morrer, teve uma visão que dizia ser tarefa da Ordem dos Jesuítas expulsar o monstro que se abrigava na Toca da Sununga. É por isso que aqui cheguei. Vim nos passos de Anchieta'.


                Chegando ao local, o monge, acompanhado dos fiéis católicos do lugar, ergueu os braços num largo sinal da cruz, murmurou sua prece e aspergiu sobre o local a água benta que trazia. Naquele instante, tal como um trovão violento, a água do mar invadiu a toca e abriu um caminho por onde o monstro se foi, num turbilhão de espuma, mar afora.  Desse modo, graças à fé desse religioso, os caiçaras se viram livre daquela maldição”.

               Continua lá, na Praia da Sununga, a Gruta que Chora pelas muitas vidas devoradas pela serpente. Vale a pena conferir!

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