Painel de escola (Arquivo JRS) |
No ano
passado, conduzindo uma turma de adolescentes até a Praia da Sununga, me
deparei com uma realidade: poucos deles ouviram falar de uma lenda que envolve
essa praia, a gruta que fica no canto esquerdo. “É uma tal história de
serpente, né? Como é que é mesmo?”
Eu até já contei uma primeira versão dessa lenda! Hoje, recorro ao
trabalho do Seo Filhinho para a adaptação a seguir.
“Marcelina,
uma caiçara adolescente que morava nas cercanias da Praia da Sununga, de
repente pareceu aniquilar-se, comendo pouco, sem ânimo para nada. De nada
valiam os banhos, benzimentos e remédios da cultura local. Diante da
preocupação da mãe e de outras pessoas que gostavam muito dela, ela tentava
acalmá-las.
Dias se
passaram, tristes e apreensivos, até que certa madrugada, de seu quarto a mãe
escutou soluços e palavras desconexas. ‘Não vá. Não...não quero...espere...’ Ao
acordar em lágrimas e vendo a mãe sentada em sua cama, Marcelina se abriu:
‘Sabe a história daquele bicho que mora na Toca da Sununga, que diz que ninguém
pode passar por lá sem provocar a sua ira, deixando o mar revolto e impedindo o
trabalho dos pescadores? Pois é! O Seo Antero, lá da Praia das Sete Fontes,
disse-me que viu, numa noite o tal bicho: do meio pra cima parece o dragão que
tem no quadro de São Jorge, o resto do corpo parece de uma cobra. Foi milagre
ele não ter sido devorado naquela noite. De lá pra cá eu tenho sempre a
impressão que esse bicho me segue. Numa noite, há alguns meses, aconteceu uma
coisa bem estranha: o bicho, do jeito que o Seo Antero descreveu, entrou no meu
quarto. Eu queria chamar a senhora, mas não consegui soltar a fala, nem correr.
De repente... aquela coisa feia se transformou num moço bonito e ficou comigo
até o galo cantar três vezes na madrugada. Dessa noite em diante ele tem vindo
ficar comigo. Agora mesmo eu estava chorando porque não queria que ele fosse
embora. É por isso que eu não tenho vontade de mais nada, a não ser ficar
pensando nele’.
Depois
de algum tempo dessa revelação, passando por sua casa um velho monge, a mãe contara os tormentos da filha e de todos os
familiares. Era comum naquele tempo desabafar com alguém da Igreja e se sentir
aliviado. Na verdade, aquele homem era um padre que revelou: 'o padre José de Anchieta, antes de morrer,
teve uma visão que dizia ser tarefa da Ordem dos Jesuítas expulsar o monstro
que se abrigava na Toca da Sununga. É por isso que aqui cheguei. Vim nos passos
de Anchieta'.
Chegando
ao local, o monge, acompanhado dos fiéis católicos do lugar, ergueu os braços num largo sinal da cruz, murmurou sua prece
e aspergiu sobre o local a água benta que trazia. Naquele instante, tal como um
trovão violento, a água do mar invadiu a toca e abriu um caminho por onde o
monstro se foi, num turbilhão de espuma, mar afora. Desse modo, graças à fé desse religioso, os
caiçaras se viram livre daquela maldição”.
Continua lá, na Praia da Sununga, a Gruta que Chora pelas muitas vidas devoradas pela serpente. Vale a pena conferir!
Continua lá, na Praia da Sununga, a Gruta que Chora pelas muitas vidas devoradas pela serpente. Vale a pena conferir!
Nenhum comentário:
Postar um comentário