Olá, Marcelo Augusto! Seja bem vindo ao blog!
Eu chamo de novos colonizadores todos
aqueles que, desde o advento do turismo (que trouxe turistas, grileiros de terras, obras,
condomínios, ocupação desordenada, poluição das nossas águas, tomada dos jundus
etc etc.), vieram para a cidade de Ubatuba tentar melhorar de vida (montar seu
próprio negócio, ter um emprego regular, viver num lugar mais calmo etc.). Estão
na mesma classificação os caipiras que desceram a Serra do Mar, deixando seus
lugares (Catuçaba, Vargem Grande, Cunha, São Luiz do Paraitinga, Redenção
da Serra...), os pobres migrantes de tantos Estados que constituíram mão de
obra barata para a construção civil, e, ainda, os em melhores situações
econômicas que fugiam das cidades maiores e de seus problemas. Muitos desses
novos colonizadores já completaram três gerações por aqui, mas a maioria dos seus descendentes
não sabe nada da cultura caiçara, dos saberes originários daqui. Aquilo que preenche seus espíritos também não é da origem de seus pais. Na verdade, é gente que não tem nenhuma
raiz cultural a não ser as modas ditadas pelos meios de comunicação. Não tem
memória. São vítimas da massificação cultural. E, conforme já disse alguém, “um
povo sem memória não propõe nada; só copia”. Agora você entenderá melhor o
restante do texto.
Aproveitando uma folga, estou
caminhando com a mana Ana. Nesses serões, quando a Terra se refresca, já não é
tão normal encontrar, como em outros tempos, as pessoas proseando nos
banquinhos, pelos portões. Mas... exercitando
e fazendo caminhadas se vê muita gente! Que bom que nós, em nossa Ubatuba,
temos uma academia a céu aberto! De repente...
De repente, em
duas bicicletas, quatro adolescentes passam farreando. Um deles, com potente
voz, canta uma música que tem uma letra horrível e reveladora, pelo baixo nível
do palavreado, de quão
desrespeitoso e atrasado
culturalmente é o rapaz. “Miserável
cultural!”. Na hora comentei: “É um dos novos colonizadores que só colabora
para a degradação da nossa cidade”. De repente...
De repente
reparei naquele rapaz e me veio à mente outro momento, parecendo história de
“Era uma vez...”.
No ano de 1976, eu trabalhava em uma obra na Praia da
Enseada, onde o construtor, Idílio Barreto, contratou quatro operários
recém-chegados de Minas Gerais. Eram “piões de obra” que “queimavam panela”
para alavancarem uma nova fase de vida. Dentre esses, eu admirava muito o
“Miro” porque era bem educado, trabalhava caprichosamente e não desperdiçava o
seu suado salário. Mais tarde, quase um ano depois, ele trouxe o restante da
família (esposa e três filhos). Foram morar num dos nossos sertões.
Sem nunca ter a
intenção, os nossos caminhos foram se cruzando. Desse modo, acompanhei
nascimentos, casamentos dos familiares, locais de moradia etc. Fico contente
porque o meu amigo – muito batalhador! – se realizou (tem uma boa casa, carro e
parece estar muito saudável). Agora, contrariando a lei da evolução, onde subentende que os nossos filhos têm que ser melhores do que nós, vem a decepção: o miserável rapaz, que até
transparecia estar sob efeito de algum alucinógeno, é neto do “Miro”. Que
regressão! O que diria o seu avô, caso estivesse ao meu lado, caminhando aos
cuidados de uma Lua que despontava e fazia brilhar toda a Baía de Ubatuba,
tendo que escutar tais barbaridades?
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