Em 1993, na Escola Aurelina (Estufa- Ubatuba), a diretora Maria Josefina Giglio conversava com um jovem, recém chegado de Minas Gerais. O nome dele era João. Morava e trabalhava em obra, na Praia da Lagoinha. Clemente, um caiçara do Sapê era o seu patrão. Ele explicava que ainda não tinha dezoito anos, mas viera parar em nossa cidade em busca de trabalho e querendo continuar os estudos, pois no seu lugar de origem não havia possibilidades de ir além do quarto ano primário. Sendo assim, não tinha ninguém para assinar a sua matrícula escolar. A diretora ficou emocionada por mais alguns aspectos do relato daquele jovem, pensou poucos segundos e ela mesma foi até a secretaria e se tornou a responsável pelo novo aluno. Mais tarde o João me confessou: “A dona Josefina foi como uma mãe para mim”.
O João, após cada dia como servente de obra, viajava quase vinte quilômetros para chegar à escola. No curso para adultos, foi sempre um aluno exemplar, mesmo tendo dificuldades. Na assiduidade e no cumprimento das tarefas era nota dez! Lembro-me uma ocasião, mesmo tendo se acidentado (se queimou fazendo comida) não deixou de ir nenhum dia às aulas. Seus colegas daqueles anos escolares (Maria dos Anjos, Osmarina, Cristiano etc.) certamente nunca o esquecerão. Depois foi fazer o Ensino Médio na escola Capitão Deolindo. Findada mais essa etapa, deu um jeito de conseguir um trabalho em São José dos Campos para poder continuar os estudos. Lá fez enfermagem.
Após terminar o curso, retornou a Ubatuba, conseguindo emprego no Posto de Saúde do Ipiranguinha. Que prazer era vê-lo trabalhando e convivendo tão bem com as pessoas!
Na última conversa que tivemos, ele tornou a relembrar a sua saga de mineiro em busca de melhores condições de vida. “Nunca me esqueço de como eu fui acolhido e apoiado pela dona Josefina”. E acrescentou: “Eu devo muito à escola e aos professores. Agora estou estudando em Taubaté. Não sei como as pessoas não querem estudar!”. Como seria bom se todos pensassem assim e seguissem tais exemplos!
A amizade com o João - desde o tempo de convivência nas obras, nas escolas e no bairro - passou como um giz na lousa. E, aquela conversa, na Barbearia do Tião, foi a nossa última conversa. Dele, desde ontem, fica entre nós a lembrança de alguém esforçado, honesto e verdadeiro amigo. Meus pêsames aos familiares.