Há quase duas décadas, por ocasião de uma visita aos parentes da Praia do Saco das Bananas, registrei o pequeno Matias na canoa, logo acima do lagamar. O dia estava lindo. O menino era muito curioso, estava sempre especulando sobre alguma coisa. De vez em quando o Albertino, de quem recebia todos os cuidados, ralhava: “Deixa de perguntar tanta coisa, menino. Parece que nunca gasta a pilha!”. É a imagem que eu guardo, como moldura, de um lugar que viu seus filhos deixarem seus hábitos e suas plantações. Agora, próximo das costeiras, entre os remanescentes bananais, brotam as casas dos turistas. Foi-se o tempo dos Antunes de Sá, os moradores do Saco dos Morcegos. Também ninguém do Gregório Crispim ficou. O velho Teófilo, dizem, viveu com desgosto seus últimos dias na casinha de pau-a-pique, logo depois da morte da amada Palmira. Do João Araújo eu guardo as histórias. Dos outros, já no Morro do Simão, que moravam entre o Rio do Inhame e o Espigão da Lagoa, até as imagens estão borradas. A escola, que funcionava na casa do Luiz Januário, somente deixou algumas ferragens das carteiras antigas no meio do mato, do tempo em que os alunos sentavam em duplas. Somente o semblante do pequeno Matias continua bem vivo.
No Dia de Finados, ao passar pelo seu túmulo, encontrei a mãe que chorava. Acho que esta é a sua rotina dos últimos dois anos. O menino da canoa, de tantas perguntas, se foi. Ao me aproximar, a única coisa que me veio à mente foi recomendar que não chorasse mais pelo Matias. A vida continua; a luta é para quem está vivo. A última coisa que pude oferecer foi a imagem que eu registrei naquela tarde tranquila da Praia do Saco das Bananas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário