sábado, 10 de novembro de 2012

ECOSOFIA


Da Floresta do Cedro o vovô Armiro trazia as taquaras para fazer balaios.

                Desde 1960, mesmo que quase não se escute, existe o conceito de ecosofia (que surgiu a partir das questões ambientais). Trata-se de uma forma de estar, de agir no mundo. É a relação do ambiente com o humano. Na realidade, os ecosofistas sempre estiveram entre nós, mas nem sabem que recebem esta denominação. Eis alguns exemplos:
1-      Ao mais antigos não recolhiam tudo da natureza apenas para deixar estragando em suas casas. Pelo contrário, eram sensíveis aos outros seres, também “criaturas de Deus” a partilhar das coisas ao redor. Pensavam: “Nós comemos goiaba, araçá, manacaru, pitanga etc., mas também tem os bichos que vivem disso tudo”. Era procedimento que garantia sustento para todos.
2-       Era característica dos antigos roceiros plantar respeitando o descanso da terra. Quantas vezes eu ouvi o meus avós e tios decidindo a respeito de uma nova área para roçado! “Voltaremos naquela capoeira da na Grota da Badeja. Já tem uns cinco anos que plantamos mandioca lá”. Os índios já cultivavam a mandioca neste preceito. Os termos  coivara, tiguera, capoeira, mata fechada etc. são decorrentes dessa tradição agrícola dos antigos moradores dessa terra (Ubatuba). Entre os caiçaras, somente a cultura da banana nunca deixava os lugares mais úmidos.
3-      Até no uso de condimentos tem uns resquícios de ecosofia. As cozinheiras, inclusive a mamãe e a vovó Eugênia, não usavam pimenta nos seres “mariscados” (marisco, saquaritá, preguai, guaiá, corondó, sapinhauá, santola, siri etc.). Diziam: “Não presta usar pimenta senão a natureza não dá mais”. Eu penso que pode estar nisso uma espécie de identidade e de compaixão. Afinal, pimenta nos olhos de qualquer um não é refresco.
             Um filósofo (Alexey Dodsworth-Magnavita) diz que “não interessa aos ecosofistas a imagem da coruja de Atenas a alçar voo apenas quando o dia se findou [...] Limitar-se a explicar o que se passou, decolando apenas no ocaso da vida, não é algo que atrai os ecosofistas”. Então, se pautando nos exemplos possíveis de continuar praticando e nas novidades preservacionistas, de desenvolvimento sustentável etc. vamos exercitar a nossa obrigação ética de agir no mundo a partir da nossa realidade próxima. É assim: as admiráveis caminhadas começam com os pequenos passos.

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