sábado, 20 de agosto de 2011

Boi-tatá II


Segundo os índios que aqui viveram, boi-tatá era  uma cobra de fogo que surgia no mar. A descrição de Leovigildo Félix lembra a imagem sugerida pelos índios:
“Naquele tempo a praia do Pulso, dos meus avós maternos, era o nosso principal lugar de brincadeiras. Num final de dia, depois do serão, eu, o Antônio, o Ditinho Ricardo, o Pedro Cesário e outros meninos mais velhos fizemos uma fogueira na areia. Os mais velhos falavam que o boi-tatá não gostava de fogo, mas nós não estávamos nem aí para isso. Estávamos nos divertindo quando vimos surgir uma luzinha lá para os lados da Praia Grande do Bonete (a quilômetros de distância). E começamos com a provocação, gritando: 'Lá está um boi-tatá, se há de prestar que venha cá'. Enquanto isso a molecada batia tição contra tição, pulava na areia e fazia a maior farra. Aí nós vimos aquele fogo se aproximando por cima do mar. Era vermelho-alaranjado, girava com violência espalhando faíscas e deixando um rastro de fogo atrás de si, como um cometa. De repente já estava no morro do Pulso, na costeira. Nessa hora foi uma correria só: a criançada disparou em desespero, buscando suas casas. Nunca mais ninguém pensou em repetir isso.”
A caiçarada diz que o boi-tatá foi sumindo com a modernidade, a luz elétrica, o aumento da população no litoral. Mas muita gente ainda hoje tem viva a lembrança do medo que passou ao ver, em tantas ocasiões, aquela misteriosa luz sobre o mar.

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