Sempre que precisávamos de uma vara de pesca, recorríamos ao bambuzal que ficava no pé do morro, perto da casa da Tia Quinhinha, no Perequê-Mirim. Obrigatoriamente tínhamos que passar pela “porta da cozinha” dela, pelo seu terreiro. Era quando parávamos para apreciar algum passarinho que estava por ali engaiolado. Ela dizia assim: “Isso é coisa do Tacílio, meu filho!”.
Nunca a Tia Quininha deixava alguém sair sem tomar um café com beiju. E assim, na cozinha da gostosa casa de pau-a-pique nos acomodávamos em torno de uma chaleira de café e de uma cuia grande com beiju. Também era comum ter piché e raízes cozidas (inhame, cará, mandioca...). Era nessas ocasiões que eu me encantava mais pela casa que sempre me despertava para alguma coisa. Descrevo-a agora, mas sei que o maior esforço do leitor não captará a beleza acolhedora desse lugar da minha infância:
A casa por fora era somente embarreada, tendo uma barra lisa cinza até a altura de um metro por toda a sua volta, mas por dentro estava toda rebocada com argila branca, tirada do rio do Licínio que não era tão longe. A sala era assoalhada, onde ficava um simples altar (o oratório). Nos dois quartos da casa ficavam as camas-tarimba. Explico: madeiras em forquilhas eram fincadas na terra e recebiam a estrutura em juréu (uma plataforma de paus roliços) que era forrada por esteiras. Era onde se acomodavam os caiçaras de antigamente. Que sono! O curto corredor tinha imagens coloridas, feitas pelo jovem Otacílio. Eu nunca soube entendê-las, mas eram bonitas. Eram riscadas de carvão na brancura da argila, pintadas com amarelo do cipó chumbo, rosa da maravilha, roxo da pixirica, vermelho da begônia e tantos tons de verde que até não dava pra contar.
Para encerrar: eu ficava tão maravilhado com a casa e com a bondade da dona da casa que teve ocasião até de esquecer de ir ao bambuzal, de cortar vara.
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