Nesta semana comemoramos a Semana do Folclore. Quem se lembrou disso?
É necessário ter uma ocasião para pensar e festejar tudo aquilo que passou a ser parte do folclore, da cultura popular. Afinal, tem uma sabedoria e/ou uma resistência que enfrenta o tempo, que nós usamos em diversas ocasiões como recurso imprescindível, mas por preconceito não queremos admitir como cultura popular, como saber preservado pelos mais pobres.
É folclórico aquilo que só é praticado por uma minoria ou sobrevive na saudade de forma decorativa, ou seja, precisamos enxergar de vez em quando para ativar nossas reminiscências. Tudo aquilo a que recorremos de vez em quando, que “deixou de ser essencial” na sociedade consumista e individualista atual, classificamos como folclore.
Eu prefiro, em muitas ocasiões, recorrer ao termo de cultura popular para mostrar uma sutil diferença entre as coisas que quase não sentimos necessidade e as coisas que, regularmente, apelamos como útil, que nos satisfazem. Vejamos as duas situações:
1- É folclórico as técnicas de caçadas que supriam a mesa dos pobres caiçaras. Podem estar detalhadas em museus para que as gerações posteriores conheçam a criatividade que nasce da necessidade. Na minha varanda, só para ilustrar, guardo com muito carinho o bodoque confeccionado pelo amigo Irineu. É de guatambu. Quem já viu um bodoque ou conhece o guatambu, a sua enigmática/curiosa semente?
Na confecção do bodoque está explícita a sabedoria prática dos antigos caçadores: o recurso do arco para lançar flechas sofreu uma adequação para atirar pedras. Agora não precisamos mais disso. O exemplar que tenho em casa é somente como recordação de um amigo e dos tantos bons bodoqueiros (Mané Gaspar, Tião Armiro, Joaquim Sirvino, Janguinho do Morro e outros) que pude testemunhar na minha infância. Também o disponho aos meus filhos e visitantes para pratica de arremessos com o intuito de sentirem o quanto é difícil ser habilidoso com tal instrumento. (Muitos já arroxearam a unha!).
2- Digo que é cultura popular aquilo que estou sempre buscando para uma solução imediata. Exemplos: Qual mato usar para aliviar essa dor? O que vem depois de um sudoeste de três dias? Também pode ser sempre desafiante, mesmo ninguém sabendo de que tempo é. O que seria a adivinha proposta pela minha vó Eugênia?
“Ele morre queimando, ela morre cantando”.
Ou essa outra:
“São três irmãos: o primeiro já morreu; o segundo vive conosco e o terceiro não nasceu”.
Quando a gente queria resposta, a sabida vovó respondia:
“Use a cabeça para não enferrujar!”.
É isso! Viva o saber com sabor que vem dos antigos, que nos supre nos dias de hoje! Viva o que chegou até nós graças a vontade-necessidade do povo!
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