Florada das tinticuias na rodovia - Arquivo JRS |
"Eu já vi dançar essa imagem da riqueza da floresta no tempo do sonho" (Davi Kopenawa, no livro A queda do céu)
Anna está chegando de viagem. Seja bem-vinda, querida! Depois de muitas horas desde Juiz de Fora, ela embarcou em Taubaté e vem pela Rodovia Oswaldo Cruz. "Já estou em São Luiz do Paraitinga. Alguém passou mal e vomitou dentro do ônibus". Assim que ouvi isso dei uma suspirada, pois é certeza que na parada o veículo passará por uma limpeza antes de continuar o trajeto. Ainda bem! Senão, sentindo o cheiro desagradável, mais gente pode passar por enjoos e vômitos. E a possibilidade, na serra, naquele tanto de curvas, é sentir-se enjoado quem tem tendência a isso. As informações são repassadas por meu filho que acabou de completar vinte e dois anos. Anna é a sua querida namorada. Peço a ele que transmita uma animação à moça: "Diga-lhe para dar toda atenção à bela paisagem que começa logo após o Rio do Chapéu, entrada de Catuçaba, pois agora é tempo de florada das tinticuias".
Tinticuia é o nome indígena, transmitido aos caiçaras. A maioria das pessoas aprenderam a chamar de manacá-da-serra ou de quaresmeira a árvore que, nesta época de verão, enfeita o entorno da estrada de flores em rosa e branco.
Não demora nada para nova mensagem da Anna: "Já estou avistando. Nossa! Que beleza! Tudo é muito lindo!". Sim, é mesmo muito bonito o espetáculo que se mostra aos viajantes. Você sabia que a presença de tinticuia, jacatirão, capororoca e outras árvores em profusão é sinal de mata em regeneração? Recebe o nome de mata secundária; é importante na assimilação de carbono, no abrigo aos animais e à infinidade de seres que polinizam e transformam tudo em nutrientes etc. Também estabilizam os solos, preservam as fontes de água... Enfim, garantem a biodiversidade. Desconfio que, naquilo que resta da gigante Mata Atlântica, a maioria é composta de matas secundárias. Fiz questão de reforçar esta informação para o meu filho. Antes era tudo mata fechada. Se teve nome indígena essa maravilha de floresta, ele não chegou até nós devido às perseguições aos povos originários. Depois virou plantações (cana-de-açúcar, café, pastagem de gado...). Nesta estrada, entre Taubaté e Ubatuba, boa parte está se regenerando, possibilitando espetáculos cheios de cores e cheiros, mas surge novos perigos. Por exemplo: eucaliptos e pinheiros (plantas exóticas) estão sendo plantados, se espalhando, dominando importantes espaços, matando nascentes de águas e exterminando espécies nativas. Outros perigos: queimadas e construção de condomínios.
Compare, na próxima viagem, a beleza e o frescor de nossas matas nativas a essas plantas capitalistas.
Tenho orgulho de ter esse ser humano como meu amigo, sua sensibilidade na escrita seu olhar atento aos detalhes faz com que possamos nos encher de paisagens mesmo que no pensamento.... Muito obrigada mesmo meu amigo.
ResponderExcluirGratidão, amiga! E viva a sua mamãe que está bem, na lida da roça!
ExcluirPaisagem realmente linda!
ResponderExcluirDemais, né?
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