Um senhor robalo (Arquivo JRS) |
Maneco, gente dos Carlota, não sabia o que era pescar com molinete até o ano passado. Foi seu primo e compadre que, vindo de Taubaté, lhe trouxe uma vara de pesca dessas chiques. Ele agradeceu, mas disse que preferia continuar se divertindo com a tradicional vara de bambu. "Eu não preciso dela, compadre. Os peixinhos que consigo puxar são pequenos, embetaras que nem chegam a um quilo, caçãozinho miúdo e outros que só lambiscam o anzol. Aqui, rente da areia, não aparece peixe grande. Foi-se o tempo...". Mas o outro insistiu para que ele ao menos testasse: "Hoje mesmo, no entardecer, nós vamos juntos tentar a sorte. Você vai fazer um teste com essa vara nova. Também trouxe umas iscas artificiais, dessas que agora estão na moda. Vai ver como é bom essas novidades, esses produtos dos japoneses". Tudo combinado, lá se foram os dois.
Depois de uma explicação inicial e de uma demonstração, Maneco arriscou usar a tecnologia porque não queria parecer indelicado. Afinal, presente é presente. Eu, debaixo da sombra da amendoeira, acompanhava a evolução dos dois. Pesca de currico: lançavam e puxavam a linhada, lançavam e puxavam, lançavam e... "O que será que o Maneco ferrou?". Conhecendo bem o Maneco, pensei até que fosse brincadeira. Mas não era. Ele andava na areia de um lado para outro; pelo jeito era grande mesmo o que estava fisgado. A vara nova arcava conforme a linha entrava e saía na carretilha. Eu passei a prestar toda a atenção, torcendo pelo pescador. O amigo o acompanhava, parecia dar mais orientações. Vai que vai, puxa que puxa... Aos poucos aquilo foi se aproximando da praia. Eu me desloquei para ver de perto o que logo estaria na espuma do lagamar. Pensei em robalo, pois logo ali era a desembocadura do rio. E era mesmo! Um senhor robalo! Vibrei mais que os dois ao ver o bonito peixe. "Que bitelo! Desde o tempo de mergulho com o Tio Dito eu não via um assim!". Elogiei os dois pela pescaria, tirei umas fotografias. Nisso chegou um rapaz, turista pelo jeito. Todo encantado pediu ao Maneco se ele podia posar com o bonito peixe: "É para mostrar ao meu pessoal. Eles precisam ver essa beleza pescada onde a gente se diverte com a nossa família, com os nossos amigos". E já foi se abraçando ao robalo para a sua companheira registrar o momento. Perguntei a ele se eu também poderia fazer uma imagem dele segurando o peixe. "Tudo bem, tudo bem. Manda brasa, amigo!". Assim obtive a imagem que mostrei a conhecidos que há muito tempo dizem: "Ali, naquele cagador, não tem peixe bom. É tempo perdido ficar pescando ali". Enquanto isso Maneco voltou com maior empolgação a lançar a linhada e puxar, lançar e puxar, lançar e puxar... Ainda escutei o seguinte comentário do velho pescador: "Você estava certo, compadre! Essas novidades são boas mesmo! Agora vou aposentar a vara de bambu".
Voltei para debaixo da gostosa sombra e ainda acompanhei mais um pouco a movimentação dos dois amigos se divertindo por um bom tempo. Imaginei a panelada de carne de robalo no almoço do dia seguinte. "Certamente o Maneco vai chamar a filharada para o almoço de amanhã. Que festa! De fato, é um senhor robalo. Valeu a tarde".
Imagina quanto tempo ele vai demorar para pescar outro desse! A tecnologia não supre a escassez.
ResponderExcluirPelo contrário até. A tecnologia muitas vezes pode acelerar a escassez. Exemplo: os sonares nas embarcações varrem os oceanos perseguindo cardumes.
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