O céu é o limite (Arte: Cristiane Campos) |
Segundo
os estudiosos do tema, o Carnaval tem origem nas festas primitivas
(pagãs) ligadas à agricultura. Quem não gosta de festejar? Os
romanos, por exemplo, homenageavam Saturno, o deus da agricultura,
com desfiles pelas ruas, com carros em forma de barcos, os carrrus
navalis. Mais tarde, com o poder da religião católica, tais
festejos foram incorporados ao calendário cristão porque eram muito
populares. Ou seja, o pragmatismo católico determinou “dar um
jeito para não deixar de atrair fiéis para a religião”. Hoje,
após um tempo tentando demonizar esse período, a maioria das
religiões promovem seus carnavais. Quem nunca ouviu falar em
Rebanhão de Carnaval e coisas do gênero?
“Não
me leve a mal, hoje é carnaval”. O carnaval, numa manobra
linguística orquestrada pela crendice, virou festa da carne, ganhou
outra estação na marcação do tempo, antecedendo a Quaresma (tempo
litúrgico de penitência, de se abster de tantas coisas). Com o
passar do tempo, em cada local foi se particularizando as formas de
se festejar. Para esta terra, os portugueses trouxeram a sua forma de
brincar o carnaval: era o Entrudo, onde as brincadeiras de rua
consistiam em jogar bolinhas de cheiro nos foliões. Escravos se
comportavam como os senhores, se fantasiavam, excediam os limites do tempo comum . Todos eram livres para
expressar suas alegrias, para desabafar seus sofrimentos, para
criticar a sociedade, tal como assistimos a cada ano. Assim deve
continuar sendo o Carnaval! Só não sei como se sente um folião que
apoia governos claramente contra as classes populares. Não me leve a mal fulano de tal, sicrano etc., mas vocês são incoerentes com suas paixões!
O
meu povo caiçara sempre foi festeiro. Sempre se dava um jeito para
um bate-pé regado a bebidas e comidas, mesmo que na maior
simplicidade. Qualquer tempo, quando uma reserva estava garantida, os
motivos festivos não faltavam. São comuns os relatos de festas nas
casas nas diversas praias! As moradias, por mais pobres que fossem,
tinham uma sala grande para festas. Carnaval mesmo, como apreciamos
hoje, acontecia no centro da cidade, com máscaras, bonecões e
bandas animadas. Alguns se deslocavam das mais distantes praias e
sertões para “brincar o carnaval”.
No
meu tempo de menino, no Perequê-mirim, havia um salão ao lado do
campo de futebol. Era o espaço dos espetáculos do bairro. Dona
Aparecida, evangélica, que tinha horror à festa da carne,
denominava o nosso salão de “Cocheira”, o lugar das vacas.
Coitada dela. Fora dos horários de matinês, a criançada se
mascarava e tomava as ruas com varetas na mão, assustando as demais.
Só que nós, por sermos poucos e todos conhecidos, sempre
descobríamos quem era quem. Quem estivesse mascarado ficava doido ao
ter o seu nome pronunciado. Então, partia para dar umas varadas. Era
uma correria só.
Não
tem como conter uma paixão popular e as manifestações populares,
sobretudo aquelas que denunciam os senhores e suas iniquidades,
confirmando que a necessidade é mãe da criatividade. Assim,
parabéns à Mangueira que contagiou o público e levantou o coro com
o refrão:
“Favela, pega
visão.
Não tem futuro
sem partilha,
Nem Messias de
arma na mão”.
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