quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

PÉROLAS PELOS CAMINHOS



Pérolas pelos caminhos (Arquivo JRS)



         Começo de tarde, depois de uma chuva rápida - mas das grossas! - avistei a Cleusa com as suas duas meninas. Perguntei-lhe da antiga casa de fazenda, querendo apreciar umas raridades que estão por ali, conservadas. Então ela me orientou: “Desce aquela viela, depois vira a primeira rua, que vai terminar no rio. Você vai ver, senão... alguém dali informa de boa vontade. Eu estarei lá e posso mostrar aquilo tudo”. E assim fiz. A referida rua estava alagada; umas pessoas socorriam algumas coisas em um quintal próximo. Alguém, percebendo que eu buscava algo, deduziu o que seria e me indicou: “É ali, tá vendo aquela luz? É lá mesmo! A mulher já vem vindo”.

        A mulher era a Cleuza. Entrei já reparando nos tijolos, nos móveis, nas peças cerâmicas. Quanta coisa conservada! Imaginei outro tempo, quando havia uma edificação naquele lugar, com pessoas habitando o local. Mas o que está preservado ainda me comove! O marido da Cleuza, observador da nossa admiração, entrou na conversa e fez seus comentários interessantes. É latino-americano, de alguma região andina. Que bonito ver o casal tão interagido com tudo isso!

         Acordo; agora é realidade. Ali, na beira do rio, agora passa por uma restauração, o casarão do Balthazar. Há muitos anos, quando proseei com o Mané Hilário, ele, se referindo a esse sobrado tão importante, disse o seguinte:

Lá não tinha nada; era tudo fechado. Eu dormi no sobradão, lá no último sote [sótão] de cima eu dormi numa ocasião. Eu era pequeno; nós morava do lado. E eu fui dormir porque a dona do sobrado, Benedita Baltazar, a velha, eu conheci. Conheci a Benedita Baltazar e o filho. Eu conheci. O filho chamava-se Oscar e ela era Benedita. Era uma senhora de boa aparência, bonitona, né? Cabelo penteado, fazia aquela rodilha aqui no arto da cabeça. Que nem uma italiana faz, ela também fazia. Ficava lá em cima, no sote, fazendo crochê. Ela ia embora, passava lá três, quatro, cinco meses e vortava traveis de novo aqui. Depois, muito tempo depois, ela foi embora e não vortou mais. A viúva, né? Agora, o velho Bartazar mesmo, esse eu não conheci. O Bartazar Fortes eu não conheci”.

           Eu sempre defendi que o município deveria contratar, para o bem do turismo cultural, ao menos dois profissionais imprescindíveis: um formado em História e outro em Arqueologia. Me corta o coração ver pelos cantos tantas peças ligadas à nossa história, saber que as ruínas estão arruinadas, descaracterizadas, desaparecendo, assim como me emociono demais ao descobrir, sem pretensão nenhuma, pérolas pelos caminhos. Agora, faço referência a uma maravilha em mosaico, na via para caminhantes que fica paralela à rodovia, na praia das Toninhas, defronte ao Hotel Candeias. 


      Nem gosto de descrever, pois a imagem fala muito melhor do que qualquer texto. O mérito é da Adriana. Lindo, né? Quando você quiser apreciar o maravilhoso trabalho mais de perto, passa lá e faça bom proveito

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