Hoje o Dito Costa já é falecido. Nem sei dizer qual o rumo na
história da sua esposa. Acredito que seus filhos, netos e bisnetos
estejam bem, por aí. É assim… a vida segue... O que vou contar agora
aconteceu já faz tempo, quando o referido casal e a criançada
moraram no morro da Fortaleza, na nossa casa que ficou desocupada
após nos mudarmos para o Perequê-mirim.
Humilde como ele só, numa tarde, assim que me viu passando pelo terreiro, me pediu: “Avise o seu pai que hoje está para chegar o meu tio
Isaurindo, mas não deve se demorar por aqui. Vem de Santos descansar e visitar a gente, trabalha lá,
no porto, mas já está perto de se aposentar”. "Pode deixar, Seo Dito". Achei estranho, era a primeira vez que escutava nome assim. Na
verdade, foi a única! De fato, no dia seguinte, lá estava o parente
do Dito, bem diferente do sobrinho. Era conversador, sem nenhuma
timidez, corado, cheirando a banho tomado… Brincava e caçoava como um bom caiçara. (Só que
era caipira). Não sei o porquê, mas eu queria saber a razão do
nome dele. Bem diferente, né? “Será que a mãe é Isaura e o
pai Florindo?”, “E se for Isaltina com Laurindo?” etc.
Fiquei pensando nisso pouco tempo, coisa de nada, pois criança tem
coisas mais importantes para se ocupar. Alguém duvida?
Bem mais tarde, já adolescente, quando eu trabalhava num bar,
reencontrei o Isaurindo, aposentado, cheio de cabelos brancos e de
rugas, bem avançado na idade. Então, na primeira oportunidade lhe
perguntei: “O senhor poderia me esclarecer uma coisa:
Isaurindo tem ligação com Isaura? Por acaso, Isaura era o
nome da mãe do senhor?”. Ou seja, cresci mas não deixei o
costume de perguntar sempre. “Menino especulador, que
quer meter o bebelho em tudo”, segundo a mamãe. No mesmo
momento, ele pegou um pedaço de papel de pão que estava por ali, me pediu uma caneta e
escreveu: E X A U R I N D O. Assim mesmo, em letras bem grandes! E emendou: “Não tem nada com
Isaura! O meu nome é único e é lindo!”.
“Nossa! Agora que complicou mesmo!”. Com muita paciência ele
tentou me explicar. “Exaurir é perder forças, se desgastar.
Esgotar-se e outras palavras significando mais ou menos isso. O meu
finado pai - que Deus o tenha! - me disse que eu ganhei este nome
depois de ele ter escutado uma conversa de dois amigos brincalhões,
meio que parentes dele, nossos. A fala do meu papai –
que Deus o tenha! - foi esta: O Tonico e o Andrelino comentavam que o
doutor Leão Nagib, deixou de lado a viuvez de muitos anos e se
casou com uma mulher muito mais nova do que ele. Rindo demais os
dois, esta foi a parte que diz respeito ao seu nome: ‘Ele está
muito cansado, baqueado de dar dó. Quem não sabe que bainha nova
não se dá com canivete velho? É certo que ela o está
exaurindo. Quem não vê isso?’. Naquele dia, pelas mãos da comadre Donária, você nasceu. E aquela
palavra, a tal de exaurindo, que eu achei muito bonita, me acompanhou
até o lugar onde você foi registrado. O Elizur, dono do cartório da nossa Ubatuba, quis
criar caso por causa do seu nome, mas até deu uma gargalhada
depois que eu contei essa história, que era a justificativa;
logo sacudiu os ombros, preencheu a papelada e me entregou a certidão
válida na República dos Estados Unidos do Brasil. Após 'o referido é verdade e dou fé', ele assinou”.
Que interessante! Na época, fiquei feliz e agradeci pela
explicação. Não demorou muito para o Tio Isaurindo, digo Seo
Exaurindo, nos deixar. Posso dizer que o Exaurindo se exauriu?
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