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Olha a abóbora! (Arquivo JRS) |
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Posando com Papai Noel (Arquivo JRS) |
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Arte em casa (Arquivo JRS) |
Ali
perto da estrada, debaixo do majestoso ipê plantado pelo saudoso
pastor, eram três a prosear: o filho do Antônio Caolho, nascido
depois da Eva, o mais velho do Dito Santo e o que lhe escreve, filho do
Carpinteiro. O assunto principal era pescaria, depois de passar por
assuntos de família e desse nosso lugar que cresceu tanto, onde quase ninguém já se conhece. Arrumar tempo assim é costume de tranquilidade, coisa de
caiçara que muita gente nem faz questão nos dias de hoje.
- E o seu irmão?
- Meu
irmão agora é evangélico, tem raiva das imagens que eram da minha
mãe. Depois que ela se foi, eu trouxe tudo para casa. Agora, se você
for lá, verá na sala o oratório com alguns santos. Todos eram
dela. Ela e meu pai eram católicos e morreram assim. Eu sigo eles,
vivo me lembrando dos exemplos deles.
- Eu
sei disso. Me lembro muito bem de como trabalhavam os dois. Quantas
vezes tomei café com vocês, na casa da beira da estrada!?! O
vizinho mais perto era o velho japonês. Mais ao fundo, debaixo da
grande mangueira, era a casa da sua irmã e do Genésio. Coitado…
Bebia tanto… Saudades deles e de tanta gente boa que partiu.
- E você? Cadê aquela moto bonita, antiga, CB 400, né?
- Ela
tá ali, em casa. Fica na sala. Quase todos os dias dou partida nela,
senão trava o carburador.
- Quando
foi a última viagem nela?.
- Ah!
Faz tempo! Há anos fui em Serra Negra visitar um amigo. Pousei lá
para depois seguir até Mairiporã, entrar pelos caminhos
da roça e visitar meu pai. No dia seguinte amanheceu uma chuva
torrencial, grossa mesmo. Meu amigo ainda tentou me dissuadir de sair
com aquele tempo, mas não conseguiu. Uma jaqueta e uma calça grossa
era o meu agasalho. A chuva continuava do mesmo jeito, grossa que só.
Quando peguei a estrada de barro é que senti a dificuldade. Pior foi
quando a moto atolou até o motor. Depois de um tempo veio um
cavaleiro e me ajudou, senão eu ficaria ali por muito tempo. Ao
dizer que estava indo visitar o meu velho, Antônio Caolho, ele disse
que o conhecia, mas que seria impossível porque a estrada adiante
estava em piores condições, recomendando que seria bom voltar dali
mesmo. Foi o que fiz. Poucos quilômetros depois, já no asfalto, continuando cair
água na mesma pancada, a moto tava limpinha de novo, sem nada de
barro. Seria a última vez que encontraria com o meu pai. Não
demorou muito tempo, ele faleceu.
- O
nosso amigo aqui, agora aposentado, tem mais tempo para pescar.
- Isso
é verdade. Adoro pescar. Não é tanto pelo peixe, por gostar, mas
pelo prazer da pescaria, pela paz junto ao mar. Geralmente vou depois
do almoço para a costeira e só saio no serão, quando vai chegando
a escuridão.
- É
isso mesmo! Sempre ele deixa lá em casa uns peixes que pescou. A
vizinhança se dá bem, todos se conhecem. Toda latinha lá de casa
eu jogo por cima do muro dele.
- Eu
vou ajuntando aqui e ali e depois vendo. Sempre rende o suficiente
para pagar algumas continhas. Me pagam quatro reais pelo quilo. Agora
vamos entrando, ver como está o meu quintal cheio de plantas. Ah!
Tem uma abóbora reservada para você.
- Fiquem
vocês aí porque eu preciso ir à feira comprar algumas coisas. Foi
bom estarmos juntos. Foi bom rever você. Era uma criança quando foi
morar no Perequê.
- Isso
mesmo! Eu tinha sete anos.
- Até
logo. Hoje você toma café com ele, mas na próxima é lá em casa.
Vê se não demora.
- Até.
Pode deixar, Cristino.