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Convidado para uns causos, separei este contado pelo saudoso Mané Hilário, o pai. Que nobre caranha!
Eu tava facheando mesmo, no
rio. Eu co’Arfredo Mariano. Aí eu gritei pro Arfredo: “Oh, Arfredo, uma enorme
caranha!" Porque todo dia nóis achava pedaço de tainha cortada na preia, né? Era
ela que comia. E no rio nóis também achava pedaço, mas nóis não sabia o que
era. Quando chegô um dia eu trava com nove tainha na canoa, no Perequê-açu, no
rio Indaiá, na boca da barra, no começo do rio. Aí eu gritei: “Arfredo, que
nobre caranha! É a tar que anda comendo a tainha aqui!”. Eu tava
co’a fisga na canoa e ele remando. E o lampião na popa da canoa. Era
noite; uma nove da noite ou deiz da noite. Aí ele: “Não fisga, Mané
Hilário, que nóis vai alagá!”. “Ah! Não vô dexá de fisga!”.
Acompanhei
e bati a fisga na caranha. E a caranha...brubrubru....tchaaaaaabau. Nóis dois
de boca abaixo. Virô a canoa; apagô o lampião; apagô tudo! “Aí?!? Eu não disse
pra você? Eu não disse pra você? Você é teimoso! Agora perdemo a
caranha; perdemo o pexe tudo”. De manhã eu fui e peguei as tainha que tava no
poço. O siri tava pegando a roê a cauda da tainha. Aí eu embarquei a tainha e
vim embora. Quando passô ali uns oito dia ou mais, o Candinho Manduca, que era
o meu tio, foi buscá bambu seco pra fazê tinta pra botá na rede: “Mané Hilário,
você sabe de uma coisa?”. Até me assustei quando ele falô assim. “O que foi,
titio?”. “A caranha que você fisgô tá encalhada lá em cima no rio. O
corvo tá comendo”. Aí fomo lá. O pessoá foi lá juntá, tirá as escama
pra fazê enfeite no Natar, né? Aquelas escama grandona.
Era
uma baita de uma caranha! Pexe pra uns 50 ou 60 quilo. Aí fomo lá e chegamo lá.
O bucho da caranha tava amarelado de ova de tainha, rapaz! E perdemo a caranha!
Já tinha uns cinco dia ou mais. Ela acompanhou, assim mesmo fisgada, ela
acompanhou o cardume de tainha. Lá tinha um poço que nóis chamava “O poço do
Florindo”. Então, tinha um canalzinho que, com a maré, enchia. O peixe entrava
lá e depois saía. Eu não sei como foi que ela foi pra lá. Maré abaixou; ela não
pode saí. Não, ela não tava fisgada! A fisga tinha saído. Pegou na galha
rumadera, né? Aqui no lado, onde ela anada. Pegou...morreu. Uma
baita de uma caranha que era um colosso! A escama o pessoá foram buscá lá uma
porção. Eu trouxe um bocado e o pessoá tudo foram buscá para fazê enfeite de
presépio. Essas coisa, né? Fazia a mordura e enchia de escama. A escama de
caranha é bonita.
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