Fandango caiçara (Arquivo JRS) |
Elias chegou aqui almoçado. Disse
que já tinha “tirado uma pestana na
esteira, debaixo do pé de aroeira”. Penso que sim, porque é normal caiçara
descansar depois do almoço. “Cada um pega
uma esteira e se apincha, se estira onde achar melhor”. Assim era ordem de quem zelava por nós e
pela casa.
Quem, com cobiça alimentada, ler
a introdução deste, logo –é quase certo! – julga que caiçara tem vida folgada. “É por isso que definiram a cultura, a nossa
gente como indolente, preguiçosa”. É mesmo! Quem escreveu, assim definiu o
vocábulo, é de fora, pertence a mentalidade industrial, produtivo, que visa lucros
acima de qualquer coisa. Para quem compartilha deste ideal só enxerga, só tem
criatividade para atividades que rendam dinheiro. “O importante é ter muito dinheiro!”.
Quando colocamos o dinheiro acima
de tudo, as atividades solidárias, festivas e prazerosas ficam em plano
inferior. Assim achamos mais importante a servidão do que a liberdade. (Mas não
admitimos isto!). “Tudo não tem de ser
para a nossa felicidade; tudo tem de ser lucrativo. Dinheiro compra felicidade!”.
É por isso que a cultura do lugar vai se esvaindo, sendo esmagada pela
cultura dominante, consumista, de fora.
“Agora,
irmão não visita irmão. Até os pais são esquecidos, desprezados pelos próprios
filhos”. Então eu disse à Lourdes, minha prima, filha do tio Roque, da
Caçandoca: “É isso mesmo! Se a pessoa trai até a própria família, imagine então
a cultura!”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário