Jabuticabas do quintal (Arquivo JRS) |
Maria Eugênia (Arquivo JRS) |
Estevan (Arquivo JRS) |
“Frio e chuva casamento de viúva”. Adoro este clima e este silêncio
da manhã após um café com tainha e farinha de mandioca. Faz me lembrar de muitos
momentos, de outros tempos, quando não tínhamos pão tão acessível como hoje, e,
logo cedo, antes do clarear total, sobre as brasas do fogão, bananas e peixes
eram assados. “Era comida de sustância!”.
E eu acrescento: sem nenhuma droga de
conservante, dessas mirabolantes misturas químicas impostas pela indústria.
Hoje eu acordei ao pé da
jabuticabeira, colhendo as frutas sob chuva fina. Tem coisa melhor? Tem sim! Saudades
dos meus que já estão prontos, longe daqui, para as aulas deste semestre.
Nossos filhos são nossas razões
para viver de forma coerente, pensando no mundo que exige mínimos gestos em
sintonia com a necessidade de importantes passos. “O mundo tem jeito”, já dizia a Tia Sebastiana (Tiana). E
continuava: “No meu tempo era mais
difícil, meu filho. Hoje tem como se informar, tem como ler de tudo. Tendo mais
conhecimento, você tem mais amigos e mais alegrias”. A titia tinha razão. A
fala dela, mesmo depois de tantos anos, mantém uma feliz memória dessa saudosa
caiçara natural da praia do Pulso.
Estava falando da mensagem da
Tiana para uma professora, relembrando uma pesquisa de mais de cinco anos atrás
que mostrava uma triste verdade: “O professor brasileiro, após se formar, lê
pouco. Setenta por cento deles não lê um livro por ano”. Triste, né? A minha
interlocutora concordou prontamente: “Eu
acho que é verdade mesmo. Eu mesmo leio um livro por ano. No ano passado eu li
a biografia de David Copperfield. No ano anterior eu não consegui terminar de
ler um livro interessante”. Confesso que demorou alguns segundos para que
eu me lembrasse desse famoso ilusionista. Qual terá sido o tal livro interessante? E ela continuou: “Agora, no segundo semestre, espero terminar de ler um livro. Por
sinal, ele está comigo, na minha bolsa!”. Quanta
sinceridade! Não é triste?
Hoje, dia chuvoso e friorento, está
muito convidativo para me aplicar à leitura. Você também concorda?
Você se lembra daquela brincadeira "Tá quente, tá frio"? O mundo tem jeito sim, Tiana! Mas quando comprovamos professores lendo tão pouco, podemos quase gritar: "Tá frio, frio, frio...". Não ter falado mais à dita professora me deixou arrependido, sentindo um gosto azedo de covardia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário