Muro na capital paulista (Arquivo JRS) |
Instrumentos no Casarão (Arquivo JRS) |
De
acordo com o dicionário, salvaguardar é
tomar medidas para pôr (algo ou alguém) fora de perigo; proteger, defender. O
Encontro de Fandango Caiçara em Ubatuba teve este objetivo.
A
salvaguarda do fandango, da canoa caiçara... Enfim, da cultura caiçara, implica
muitos aspectos, tais como: garantia de território, festividade, continuidade dos
saberes e das tradições pelas novas gerações, artesanato, religiosidade,
técnicas, interação/interdependência com o meio ambiente etc.
A
formação acadêmica, em contato com os sujeitos dessa cultura (caiçara), só
poderá ser um reforço, “um biotônico”
conforme costuma dizer o Élvio; algo que aumentará e alimentará a nossa
resistência, pois poderá nos mostrar outras linhas de reflexão ao mesmo tempo
que vai nos apresentando fatos, experiências muitas vezes externas, que
contribuem com a cimentação das formas de resistência que aí estão, fomentando outras alternativas. Foi
assim que eu enxerguei as intervenções dos acadêmicos e acadêmicas durante o “Encontro
de Ubatuba” neste fim de semana que passou. Dentre as diversas falas, me
sensibilizei com a objetividade do Peter Santos Németh, acadêmico da Universidade
de São Paulo (USP) que se sentiu despertado a partir da convivência com os
pescadores da praia da Enseada.
“Por volta de 2004, saindo para pescar na madrugada com o Pedro, notei que
rumávamos para a escuridão, na direção do Boqueirão, ao mesmo tempo em que as luzes da
Enseada iam desaparecendo. Enquanto a canoa deslizava na água, eu prestava
atenção a tudo que o Pedro falava. Era um ensinamento sobre a sua vida, a sua cultura.
Foi quando eu acordei para a importância da canoa caiçara. Naquele ambiente, na
lida do mar, da mesma forma que o Pedro naquela ocasião fazia comigo, os velhos
caiçaras foram passando a cultura para os filhos. ‘Um dia o Pedro aprendeu
assim do seu pai e do seu avô’. Cheguei à conclusão que a canoa era o principal veículo
dessa cultura. Veículo em dois sentidos: condução nas necessidades e condução
da cultura. Veio daí a motivação para puxar um movimento pelo tombamento da
canoa caiçara como patrimônio imaterial nosso”.
Concluindo:
a partir da canoa caiçara, da prosa com aquele pescador caiçara e com tantos outros da praia da Enseada, o Peter se
viu impulsionado a fazer a sua canoa na USP. Esta sua canoa, esculpida
continuamente pelo enxó da reflexão e da vivência junto ao povo caiçara, só tende
a alargar os horizontes do Boqueirão alcançado pela canoa de pau. Ah! Agora também
leva o fandango embarcado!
O
desafio é promover mais e mais ações que possibilitem às novas gerações rever
rumos e dar mais forças nas remadas neste objetivo de salvaguardar a cultura caiçara
em todos os aspectos possíveis. E viva todo o pessoal que se envolveu no Encontro de
Fandango Caiçara em Ubatuba!
Muito Bom! Parabens amigos irmãos caiçara.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirIsso mesmo José Ronaldo! A medida em que nós nos afastávamos da luz, penetrávamos no universo caiçara. Entrávamos num tempo fora do tempo do relógio, acessávamos um saber ancestral atemporal que é passado pelo Mestre ao Aprendiz através das gerações. E a Canoa como este instrumento de viagem pelo tempo para transmissão da Tradição Caiçara.
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