Dito Fernandes, Mocinha e eu (Foto Paulo Zumbi) |
Ontem (01/12/2017) faleceu o nosso estimado Dito Fernandes, grande mestre da Congada do
Sertão do Puruba.
Parece
que passou pouco tempo desde quando eu conheci a comunidade do Sertão do
Puruba, a família de Dito Fernandes e Mocinha e de outros tantos da grande família
do lugar. Era o ano de 1981. Eu pesquisava e conhecia um pouco mais do lado
norte do nosso município de Ubatuba. Ainda me lembro bem do dia chuvoso, com o
casal forneando farinha de mandioca. A casa de farinha era logo ali, no cisqueiro,
perto de uma arataca aliviada naquele momento, junto a um lindo pé de abricó.
Até então eu nunca tinha visto desta árvore tão longe do jundu. Dentre as
minhas indagações, estava a preocupação com a possível vinda de uma fábrica de
armamentos, uma tal de Avibras, de São José dos Campos. No sertão, era
uma imensa área divisando com aquela caiçarada.
São dessa época os meus primeiros registros sobre a Congada de Bastões, cujo
mestre era Dito Fernandes, tendo como contramestre o Anastácio. “ A Congada veio de Cunha, com os
trabalhadores da caxeta. Desceu pelo caminho da Escorregosa”. A maioria dos
que manejavam os bastões era do tronco dos Fernandes de Cristo. Outros
parentes, tendo mudado dali, voltavam para compor o grupo e continuar a
tradição. Era o caso do Pedro Brandão, do Decão, do Nísio e de outros. “Ai, meu São Benedito, ai licença nos dá, pra companhia sair na rua pra
nós manejar...”. Todos os filhos e netos foram engrossando o caldo, dando a
conhecer ao litoral inteiro essa linda tradição, parte da religiosidade
popular. Uma das filhas, juntamente com o Papão, neto do Velho Rita, está marcando a cultura popular no bairro do Itaguá, dando novos rumos ao Cortiço. E a
coisa continua se espalhando com as novas gerações.
Outro
detalhe das minhas memórias dos momentos que vivi com Dito Fernandes foram as
caminhadas pela matas do Puruba. Ele tinha uma disposição fantástica. Eu o
encontrava quase sempre pronto para sair pelas picadas da mata: de botas, com
uma espingarda dependurada no ombro e convocando os cachorros. “Quércia, vem. Maluf, vem”. Dei muita risada
quando o escutei pela primeira vez chamando seus cachorros de caça. Que homenagem, hein?!? Ah! Tempo bom! E o que dizer das grandes
panelas de escaldado da dona Mocinha? “Ah!
Não sei se vou oferecer dessa comida para o Zé!”. “Claro que pode oferecer,
mulher! Não vê que ele é gente da gente, acostumado com tudo isso que nós
somos?!?”.
Viva
Dito Fernandes!
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