O primo Elias e seu cavaquinho de tantas cantorias (Arquivo JRS) |
Na minha infância, vivendo na
pequena comunidade da Praia da Fortaleza, dentre muitas coisas prazerosas,
havia os momentos musicais. Isso acontecia ao se findar o serão, quando um a um dos parentes iam se arrumando num
círculo na areia do Porto da Capela. Era a nossa Roda Musical! Jorginho tocava violão, Elias se animava no
cavaquinho, Jovane ritmava no pandeiro, eu, batendo no agogô do Tio João, acho
que “não fazia feio”. Tinha ainda o Toninho do Dário e seu bandolim, Tio Maneco
Armiro e sua rabeca, Maurício da Praia Grande e mais um violão, Elizeu no
atabaque, Ricardo no chocalho e... Ah!
Sempre chegava mais alguém!
Eram rapazes, moças e gente mais
idosa que ficavam nas belas noites enluaradas, até “tarde da noite” no dizer da
Vovó Eugênia, entoando gostosas músicas aprendidas dos mais velhos ou pelas
ondas sonoras dos rádios de pilhas. Por volta das 22:00 horas tudo já era
silêncio naquele pedaço de chão, pois os corpos precisavam descansar para um
outro dia que ia chegando com suas tarefas.
Me inspirei para este texto após
ler a descrição de um diálogo entre um bêbado seresteiro e um padre, na obra
Incidente em Antares, de Érico Veríssimo:
- Não repare, mas estou num porre medonho... mal me aguento nas pernas.
-
Por que não vai pra casa? Se quer, eu o acompanho...
-
Não, padre, muitas gracías. Vou esperar o nascer do dia. Quero fazer uma
serenata pro sol, já que fiz tantas pra
lua. E vai ser a última da minha vida.
-
Por que a última?
-
Ora, com essas músicas loucas que andam por aí, não vale mais a pena um vivente
cantar as modinhas de antigamente. Ninguém mais aprecia. E quer saber duma
coisa? Vou enterrar meu violão.
O
padre sorriu:
-
Não faça isso. A gente não deve nunca enterrar as coisas que ama.
Infelizmente, por falta de reflexões em torno da nossa identidade de caiçaras, influenciados pelos programas televisivos, por outras crenças e devido ao avanço dos turistas sobre nossas terras, o nosso grupo
se desmoronou. Ah! Que tristeza!
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