A união e a solidariedade de tanta gente resultou na vitória (Arquivo Trindadeiros) |
O
loteamento da Estufa, em Ubatuba, aprovado pela prefeitura em 1952, por determinação
do investidor Licurgo Querido, tem o nome de Gurilândia Caiçara. Só aos poucos, com o crescimento da cidade, esse
lugar foi se consolidando de fato, com ruas que receberam nomes de times de
futebol. Num apêndice, divisando com os herdeiros do Marigny, surgiu o
loteamento denominado Parque Paris,
onde os pioneiros se estabeleceram em terrenos de características muito
próximas de brejo. Prova disso você constata a cada chuva forte, com moradores
passando agruras, ficando isolados e tendo perdas materiais. Ah! Nessas
condições, em casas de blocos bem características, foram trazidos os caiçaras
da Praia da Trindade e adjacências, por ocasião do êxodo forçado, envolvendo interesses
multinacionais! Era o início da década de 1980 quando esses caiçaras foram
enxotados daquele paraíso do extremo sul fluminense.
Agora, me recordando da jornalista Priscila Siqueira, do frei Valdir Oswaldo e de tantos
jovens que se engajaram na causa dos trindadeiros, faço questão de celebrar a
vitória dos caiçaras. Era muita gente graúda contra os roceiros-pescadores!
Veja esta passagem do livro da Priscila (Genocídio
caiçara):
“Em
1977, numa declaração à imprensa, John Sillers, então representante da empresa
na praia, afirmava que ‘a vastidão da área propiciava a ação de grileiros’.
Devido a isso foram enviados homens armados a Trindade, ‘armamento convencional
como revólveres, rifles e metralhadoras’. Sillers dizia ter procurado acordo com
os trindadeiros, mas não admitia terceiros nas posses’. Um dos terceiros a que
se referia era o senador Severo Fagundes Gomes, que em 1973, através de Ivete
Maciel, conhecida neste litoral pela alcunha de ‘Loba do Mar’, adquire as
praias de Baixo, Cepilho, de Fora e Cachadaço, revendendo-as posteriormente”. A
afirmação dos jagunços e do representante era: “contra a companhia nada se pode
fazer”. No entanto, a luta valeu! A companhia perdeu! E “a maioria dos caiçaras
que se mudou para o Parque Paris, na periferia de Ubatuba, voltou para Trindade.
A companhia não lhes forneceu a escritura definitiva de suas casas e muitas
delas apresentavam péssimas condições desde o início da construção”. O que vem
a seguir se passou nesse loteamento, trinta e cinco anos depois da saga dos
trindadeiros.
Dias
atrás, andando nas cercanias procurando localizar a nova moradia do primo Zé
Roberto, avistei uma quadra tomada por mato alto. No meio de tanto capim ,
avistei um banco de concreto. Deduzi: “Isto é uma praça! Mas assim?”.
Pois
é! Lá está uma mostra muito negativa de civilidade! Nem as pessoas, nem a
prefeitura cuidam do espaço reservado como praça. Isso fez com que eu
procurasse uma passagem no livro Incidente
em Antares, de Érico Veríssimo:
“Como toda cidade pequena que se preza,
Antares tem a sua rua do Comércio e a sua Voluntários da Pátria. E duas praças,
uma delas a ‘enteada’ da família, a gata borralheira, fica na extremidade
norte, é malcuidada, cercada de casas velhas e baixas, o chão de terra entregue
às formigas, às urtigas e à guanxumas”.
Bem...
pode ser que a nossa cidade tenha muitas outras ‘enteadas’ em condições bem
mais precárias!
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