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Secagem de peixe no terreiro (Foto de Nícia Guerriero, conforme informação de Túlio Parodi).
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Na página do amigo Pedro Caetano, de Caraguatatuba, onde foi reproduzido o depoimento do saudoso Pedro Cabral Barbosa (texto logo abaixo, na sequência), já publicado a um certo tempo por mim, li este comentário e achei legal dar a conhecer a mais gente. Boa leitura!
Coisas de
Caiçara Conheci muito o Sr Pedro Cabral do Perequê-Mirim. Pai do
Miguel Cabral, Nilo Cabral e Aurora Cabral. Não sei se tinha outros filhos.
Aurora foi casada com Benedito Ciro dos Santos, muito conhecido no litoral
norte, pois fez parte do lendário time do XV de Novembro de Caraguatatuba,
junto com Xixo, Justo Arouca, João Paulo, Zé Pinto, entre outros. Depois
trabalhou no DER, onde desenvolveu,paralelamente aos deveres de funcionário
daquela autarquia, a parte esportiva, montando o Clube de futebol do DER,
-ASDER-, em Ubatuba, que participou do primeiro campeonato de futebol daquela
cidade em 1964 ou 1965, se não estou enganado. Em relação ao fato narrado, tudo
perfeito. Claro que até em função da minha idade, posso falar algo tendo como
referência inicial a revolta do presos, que aconteceu em junho ou julho de
1952. Das pessoas mencionadas, Francisco Maciel Leite, pai do Altino Maciel,
homem de fala mansa, realmente ganhou muito dinheiro com a abertura da Colônia
correcional da Ilha das Palmas. Era assim que se chamava o Presídio da Ilha
Anchieta. João Glorioso, um dos maiores pescadores que conheci. Homem de muita
garra. Dizia ser filho bastardo de Theotino Tibiriçá Pimenta. Realmente tinha
muita tralha de rede de tainha em seu rancho no Saco da Ribeira. Sua filha,
Dona Esmerânia, ainda é viva. Conheci tambem o Cabo Xavier, que ficou tomando
conta da Ilha, pós revolta. O peixe que seu Pedro Cabral fala, "troiamo de
montão, teve cardume, que de tão grande...", tenho quase certeza,- embora
tenham outros peixes de "meia-água", tais como, carapau, enchova, cavala,
que fazem o mesmo escarcéu no escuro-, que o peixe a que seu Pedro Cabral faz
referência, que precisou emendar a rede dele do Seu João Glorioso e do Seu
Cristóvão das Toninhas, era tainha. Entrava muita do Ilhote de Sul pra dentro
da Enseada. Um abraço grande em todos caiçaras
FALA
CAIÇARA....Lembranças dos tempos d’antes
“Bem piquininho eu já ia com o papai
pescá. E não tinha percisão de í muito longe pra mode pegá pexe. A maió lonjura
que trago na lembrança é da Ilha Anchieta, da época que ainda se chamava de
Ilha dos Porcos, quando nem tinha serventia de prisão. Não sei quanta casa
egistia, mais era bastante. Moravam iguar os do Búzo, sem medo de morro caí na
cabeça. Arguma casa já era de telha.
Morava muita gente naquelas banda.
Os mais velho ripitia sempre que vivê em ilha tinha arguns ganho. Lá não tinha
saúba pra mode istragá mandioca. A terra era boa e dava de tudo. Purisso não
era desperdiçada nenhuma badeja. Me alembro que de longe se avistava as
coivara.
Pexe era uma fartura pra tudo que é
lado. A maió vantage de sê moradô da ilha é vê direto barco grande passando,
apoitando no largo, comprando produto que os moradô oferecia. Tudo se
negociava: daquilo que sobejava e daquilo que era só pra negociá mesmo.
Direto, em quarquer casa, tinha
farinha que pudia sê negociada. Também se curtivava pimenta, cará, banana...
Mais o que os barco mais comprava mesmo era todo o óleo de caçoa que tivesse: o
tanto que tirasse era o tanto que vendia. Dizia que era usado em máquina pra
mode não gastá peça.
A mulherada também se esmerava na
feitura de chapéu; se vendia toda trança de parma de brejaúba que tivesse
feita. Desse modo elas negociava com peça de fazenda e mais coisa que carecesse.
Dependendo da época, também tinha
pra negociá: goiaba, araçá, bacate, cambucá, jaca, jabuticaba, grumixama, coco
brejaúba, indaiá e pindoba, manacaru, laranja... Balaio, tipití, penera também
tinha aceitação. Sempre sarvava situação.
O que mais se vendia era pexe seco.
Não me sai da lembrança o terrero de cada moradô com seu jirau inteirinho de
pexe escalado se dorando, depois empilhado em grandes balaios entremeado de
folha de bananeira seca. Isso carecia fazê pra mode mantê sempre arejado.
Adespois, veio o governo e construiu
aquilo tudo lá. E veio preso, muito preso. Daqui do Perequê, da Enseada, da
Ribeira e doutros lugá tinha gente que trabalhava lá. O Chico Cruz, irmão do
Antonio Julhião foi um deles, também tem o Bito Góis, o Rodorfo Barreto e tantos
outro que é bem vivo, que você conhece. O Macié, do canto da Enseada, atendia a
Ilha, fornecia mantimento, ganhô dinheiro com preso.
Adespois veio a revorta que assustô
todo mundo. O mundaréu de sordado surgiu da noite pro dia. Diz que um tantão de
preso morreu, mais também teve falecido entre gente que trabalhava lá. Eu não
sei o certo; nunca fui entremetido. Logo
acabaro com tudo. Agora só o Xavié toma conta daquilo; mais tudo é vazio, lugá
mar-assombrado.
Nesse tempo todo nóis sempre pescamo
em vorta da ilha, troiamo de montão. Teve cardume que, de tão grande, foi
perciso emendá a minha rede, a do João Glorioso e a do Cristóvão das
Estoninhas. Era quantia e mais quantia de milheiro. Era muita fartura.”
Depoimento colhido de Pedro Cabral Barbosa (Perequê
Mirim, 1970)
Texto: José Ronaldo