Passeando entre as sepulturas,
parei diante daquelas de pessoas bem especiais. Agora, faço questão de falar
sobre o Seo Florindo Teixeira Leite, de recordar dos tantos momentos de prosa
em sua casa, onde, por diversas vezes lhe cortei os cabelos. “O meu pessoal é
da Praia da Almada. Ainda tenho herança lá. Pode ser que os meus filhos ainda
briguem por alguma coisa, mas eu não preciso de nada. O que eu quero é saúde
para trabalhar até quando a morte aparecer e me levar”. Sempre admirei a coerência
desse caiçara que tantas redadas deu na Praia do Itaguá, que tanto pescado
proporcionou aos seus parceiros de rede e aos pobres que acorriam para ter ao
menos um peixinho como mistura. Agora, o que é desta citada praia, outrora
abundante de pescados? Esgotos matam nosso mar a todo momento, mas sobretudo
nas temporadas devido o grande número de visitantes. É a morte se aproximando
mais rapidamente de nós.
Os povos antigos, não aceitando o
limite imposto pela morte, inventaram a possibilidade de se ter outra vida.
Dessa mesma época vem a ideia de lugar maravilhoso para quem foi bom e de lugar
ruim para os maldosos. Ainda são muitas as versões de Céu e Inferno. Todo povo
tem os seus recantos reservados após a morte.
O cristianismo, percebendo a força
das tradições ditas pagãs, deu novos nomes para antigos sentidos. Assim,
seguindo a crença de que todos os mortos vinham em determinada ocasião ao
convívio dos vivos, a Igreja decretou o Dia de Todos os Santos seguido do Dia
de Finados. Pronto! As celebrações primitivas agora estão legalizadas!
O que importa é a memória que temos
de nossos entes queridos. É isso que os imortaliza! Ir aos cemitérios, acender
velas, levar flores etc. é apenas uma demonstração de quanto reconhecemos a
importância deles naquilo que somos hoje.
Nos cemitérios, os nomes, cruzes e
até mesmo fotografias nos recordam das pessoas que se esforçaram para melhorar
a sociedade, porque tudo que é/foi ruim nós vamos apagando da memória. De gente assim ainda
restará a serventia de adubar a terra, de alimentar outros seres. Tá bom assim?
O escritor João do Rio escreveu algo
parecido com isto: “Mesmo a linda morte é uma beleza horrível”.
O meu finado pai sempre tinha uns
dizeres sobre a morte: “O Céu e o Inferno são aqui. A única certeza que temos é
a morte. Quem nasceu vai morrer”.
Só sei que a morte lembra-nos que tudo
se acaba em pó. Então... é bom refletir sobre a vida simples e o respeito a
todos os seres que recobrem esta Terra.
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