segunda-feira, 3 de novembro de 2014

É DIA DELES!


            Passeando entre as sepulturas, parei diante daquelas de pessoas bem especiais. Agora, faço questão de falar sobre o Seo Florindo Teixeira Leite, de recordar dos tantos momentos de prosa em sua casa, onde, por diversas vezes lhe cortei os cabelos. “O meu pessoal é da Praia da Almada. Ainda tenho herança lá. Pode ser que os meus filhos ainda briguem por alguma coisa, mas eu não preciso de nada. O que eu quero é saúde para trabalhar até quando a morte aparecer e me levar”. Sempre admirei a coerência desse caiçara que tantas redadas deu na Praia do Itaguá, que tanto pescado proporcionou aos seus parceiros de rede e aos pobres que acorriam para ter ao menos um peixinho como mistura. Agora, o que é desta citada praia, outrora abundante de pescados? Esgotos matam nosso mar a todo momento, mas sobretudo nas temporadas devido o grande número de visitantes. É a morte se aproximando mais rapidamente de nós.
           Os povos antigos, não aceitando o limite imposto pela morte, inventaram a possibilidade de se ter outra vida. Dessa mesma época vem a ideia de lugar maravilhoso para quem foi bom e de lugar ruim para os maldosos. Ainda são muitas as versões de Céu e Inferno. Todo povo tem os seus recantos reservados após a morte.
           O cristianismo, percebendo a força das tradições ditas pagãs, deu novos nomes para antigos sentidos. Assim, seguindo a crença de que todos os mortos vinham em determinada ocasião ao convívio dos vivos, a Igreja decretou o Dia de Todos os Santos seguido do Dia de Finados. Pronto! As celebrações primitivas agora estão legalizadas!
          O que importa é a memória que temos de nossos entes queridos. É isso que os imortaliza! Ir aos cemitérios, acender velas, levar flores etc. é apenas uma demonstração de quanto reconhecemos a importância deles naquilo que somos hoje.
          Nos cemitérios, os nomes, cruzes e até mesmo fotografias nos recordam das pessoas que se esforçaram para melhorar a sociedade, porque tudo que é/foi ruim nós vamos  apagando da memória. De gente assim ainda restará a serventia de adubar a terra, de alimentar outros seres. Tá bom assim?
         O escritor João do Rio escreveu algo parecido com isto: “Mesmo a linda morte é uma beleza horrível”.
         O meu finado pai sempre tinha uns dizeres sobre a morte: “O Céu e o Inferno são aqui. A única certeza que temos é a morte. Quem nasceu vai morrer”.

         Só sei que a morte lembra-nos que tudo se acaba em pó. Então... é bom refletir sobre a vida simples e o respeito a todos os seres que recobrem esta Terra.

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