Escavando na Prainha (Arquivo JRS) |
Quando
criança, a minha diversão preferida era ir pular pedras pelas costeiras. Coisa
boa! Desconfio que esse prazer e as pedaladas constantes deram-me as forças que tenho nas pernas. Também foi assim que aprendi as diversas denominações dos lugares
dado pelos antigos caiçaras. Pedra do Alçapão, Costeira do Tolino, Pedra do Zé
Bráz, Lage Preta, Toca do Mero... são alguns exemplos. O legal é que eles
trazem uma carga emocional muito importante na minha história. Só para
ilustrar: foi na Pedra do Alçapão que eu vi o papai pescar a maior garoupa da
minha vida. Era uma tarde, pouco antes do serão, quando a vara se retesou. A
danada entocou, mas o ardiloso pescador tencionou a vara numa greta de pedra e,
no dia seguinte, logo cedo, lá estava a bitela boiando. Que beleza! Comemos e
repartimos com mais gente!
Ainda
continuo gostando de estar pelas pedras das costeiras, mas agora a agilidade já
não permite pular como antigamente. Num dia desses, lembrando do casal que
morava na Prainha do Padre, deu uma vontade de rever o outro lado do Morro do
Ocaraçu, “onde a gruta desemboca no mar”. E assim, na maior disposição, me
dirigi à prainha que também já foi do Matarazzo, o Cicillo, prefeito de Ubatuba de 1964 a 1969. É a
chamada fase áurea na administração desta cidade. Depois... só penúria! Prova?
A
prova está no nosso tesouro que dia a dia é encolhido e não sabemos como
impedir, e nem como fazer mais. Explico melhor: chegando onde moravam os
saudosos Antônio e Benedita, os últimos caseiros de um espaço que eu e tantos
circulavam livremente, uma senhora declarou: “O senhor não pode entrar aqui,
não pode passar para o outro lado. Eu cumpro ordens”. Nem perdi tempo para
argumentar com alguém que é "pau mandado". Também sei que, há muito tempo, os administradores
municipais perderam o rumo do desenvolvimento baseado na sustentabilidade, nas
riquezas naturais e culturais que temos.
Em casos assim, a Marinha do Brasil não poderia ser acionada? Quantas histórias
e belezas têm do outro lado do Ocaraçu!!!
“Ah!
Se eu fosse um homem de visão, com a política adequada que temos aqui e o tanto
de dinheiro que tenho de sobra, a primeira coisa que faria na Prainha do Padre
era uma escavação arqueológica!”. Assim brincava o Velho Ademar nas prosas do
jundu de Iperoig.
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