Velhos caiçaras (Arquivo Trindadeiros) |
Não é de hoje
que as pessoas aprontam das suas! Tudo pode acontecer quando se vive em
sociedade, por mais reduzida que seja a povoação. Um exemplo que narro agora
ocorreu na Praia Grande do Bonete, uma das maravilhosas comunidades do
município de Ubatuba. A época era essa, próxima de Dia de Finados, no final da
década de 1950. O personagem principal era o finado João Nanico. O tema foi
adultério. Os intrometidos, que após sondagens flagraram o afoito
roceiro-pescado: tio Tião e Chichico.
Numa comunidade
pequena, pouca coisa escapa das percepções dos moradores. Às vezes, nem precisa
falar nada para despertar suspeitas. Assim foi com os dois: se olhavam de vez
em quando como se estivessem combinando alguma coisa, saiam pelos caminhos que
se encontravam em algum lugar, riam de frases maliciosas, trocavam presentes
etc. O primeiro a sondar as saídas do João Nanico para a casa de sua comadre
foi o meu tio, reconhecidamente um arteiro até os dias atuais. Ele se esgueirou
entre os abricoeiros do jundu, na escuridão das grandes árvores, para confirmar
a suspeita de que quase todas as noites os amantes se encontravam na casa dela
e se amavam perdidamente.
“Ela espera o marido
inválido dormir, dá um sinal pela janela da cozinha... e lá se vai o Nanico
para a camarinha que está do outro lado da casa, perto da cozinha. Ele entra
pela janela”. Depois de escutar a novidade trazida pelo tio Tião, o Chichico
combinou uma parceria para a noite seguinte. No outro dia, no horário previsto,
ao sair de sua casa, distante mais ou menos trezentos metros da casa da amante,
o velho caiçara foi seguido pelos dois dispostos a darem um susto no casal.
Logo que o nosso personagem principal estacou no terreiro, os dois se ocultaram
atrás da grande jaqueira que ficava quase na porta da cozinha. Não demorou para
aparecer a claridade da lamparina sinalizando que o momento era aquele. E lá se
foi o Nanico.
De forma bem
sorrateira, muito cauteloso para não fazer barulho algum, estando em boa forma
física, o Nanico foi passando confiante e ansioso pela janela aberta. É o amor,
né?!? Nesse instante, saindo de trás da jaqueira, os dois correram e deram um
empurrão no aventureiro. Foi uma barulheira só porque deve ter caído sobre
panelas do outro lado. No mesmo instante os dois arteiros sumiram em direção à
praia. Bem longe foram dar risadas e imaginar a situação constrangedora aos
amantes. Afinal, alguém os pegara no pulo.
No dia
seguinte, o João Nanico estava machucado. Ao ser questionado, a resposta era: “Tropecei
na noite passada numa porcaria de balaio que estava no corredor da casa e bati
de cabeça num armário de louça”. Coitado do Nanico! Só muitos anos depois,
quando não faltava muito tempo para morrer, é que soube da verdade. Quem contou
a ele foi o próprio tio Tião Armiro. Quantas artes fez este caiçara!
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