Celeste e Gertrudes: vidas bem vividas (Arquivo JRS) |
“Foi numa
Dança de São Gonçalo que eu comecei a namorar. Foi assim: o Benedito Lopes já
era meu conhecido desde criança. Também foi criado nas Toninhas. Só que nunca
nós imaginamos de namorar. Ele até tinha namorada na ocasião da tal dança. Eu,
numa das vindas de Santos, onde trabalhava como doméstica, fui ver uma Dança de
São Gonçalo, na casa do João do Gusto. Eu vestia na ocasião um vestido de
tafetá lilás, com um cinto branco e uma sandália branca. Porém, faltou uma
dama. De tanto insistirem, eu acabei aceitando dançar no lugar daquela que
faltava. Adivinha quem foi o meu companheiro de dança? Acertou! Só sei dizer
que eu e o Benedito Lopes fizemos toda a dança e a mesura. Todo mundo gostou
muito. Para encurtar a conversa, assim que eu voltei para o meu trabalho em
Santos, ele também foi trabalhar lá. Desse modo continuamos o namoro e nos casamos. Eu tinha trinta e nove anos; ele era
um ano mais velho do que eu. Logo nasceram as meninas (Maria e Regina). Os meus
netos são o Rogério e o Rodrigo. Você os conhece.
A nossa casinha era no canto
direito das Toninhas. Era de sapê, com chão batido. Mais tarde o meu marido fez
um cimentado de vermelhão. Depois, já a outra casa, era mais bem acabada. Era
um tempo que eu cheguei a cuidar de várias casas de turistas, além de lavar
roupa para fora. Às duas horas da madrugada eu já estava de pé. As minhas
filhas vinham estudar no Itaguá, na escola Altimira; depois na cidade, na
escola Deolindo. Vinham de ônibus. A Maria sempre foi muito trabalhadeira, dava
conta do trabalho direitinho. Já a Regina nunca levou jeito para ser do lar.
Naquele tempo
as crianças estudavam na Enseada. Todo mundo só andava a pé. Desde menina eu
trabalhava. Consertei muito peixe para o Hipólito Giraud, para o João Vitório e
para o Francisco Maciel, lá na Praia da Enseada. Também trabalhei na cidade, na
casa do Doutor Rui. Foi onde conheci o Geraldo, que mais tarde se casou com a
Maria do Sebastião Rita. A filha do Doutor Rui foi estudar na França, se tornou
médica. Ela, após se casar, construiu uma casa na Praia Vermelha, na estrada
que vai para a Fortaleza. O seu marido tinha o nome de Meneses. Numa ocasião,
estando eu em casa, aquele carro chegou na porta. Era ela que foi me buscar
para fazer uma peixada na sua casa. Fomos ao mercado comprar peixe, depois fui
com ela até Praia Vermelha. Lá eu passei o dia. Agora não sei mais dizer dela,
nem da sua família. Tinham uma filha (Maria da Glória) que era doente. Ela se
tornou médica especialista em mongoloide [Síndrome de Down]. Eles tiveram uma
propriedade na Almada, na Ponta do Altar. Compraram do Mané Careca, pai do Luiz
Careca. Eu e o meu marido, a pedido dela, fomos num dia dar uma olhada lá. Era
uma casa boa, tinha água encanada da cachoeira. Deve ter vendido tudo aquilo.
Naquele tempo
as casas da cidade, na beira da praia, acabavam na casa do padre João [que até
hoje pertence à Igreja]. É onde funciona a Sorveteria Rocha, de onde parte a
Rua Professor Tomáz Galhardo, na Avenida Iperoig. [A Diocese de Caraguatatuba é
quem recebe o aluguel do imóvel, segundo o Rogério]. Depois vinha o cemitério e
o lugar onde era a primeira Santa Casa do Senhor dos Passos. Foi destruída por
um incêndio. Tudo por ali, até chegar ao mar, era só mato”. Neste momento chega
a Dona Celeste, do Itaguá: “Eu tenho oitenta e cinco anos; sou neta do Velho
Cristóvão. Nasci e cresci nas Toninhas. Sempre que posso venho conversar com a
Gertrudes”.
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