sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

GOIABADA CASCÃO (I)


Fartura de banana (Arquivo JRS)

      Nasci e cresci entre goiabeiras. Quem as semeava entre capim-melado e pela capoeira eram os passarinhos e muita gente que usava o mato para se aliviar. Assim também acontecia com maracujá roxo, com mamão etc. Nunca conseguia imaginar o que era goiabada cascão com queijo. Só na música, que chegava pelas ondas de rádio do vovô Armiro, eu ia conhecendo história de boias-frias que tinham “goiabada cascão com muito queijo”. Logo, nem essas canções podiam ser transmitidas por serem classificadas como subversivas.  Era tempo de governo militar que, sob influência dos Estados Unidos, precisava “combater o perigo vermelho, os comunistas”.
      Depois de poucos anos da minha infância, aí já se falava “à boca de siri” o que estava ocorrendo no Brasil. Por volta dos dez anos de idade, eu acompanhei o meu pai, o Carpinteiro, e o Idílio Barreto em “reuniões proibidas”. Deslocávamos quilômetros para encontros nos mais distantes pontos, quando nem as casas tinham energia elétrica. Íamos de opala. Que maravilha de carro! Aquilo era um “trabalho de formiguinha” para entender o que estava acontecendo no país e ser capaz de dar uma resposta a partir do nosso lugar de pobres caiçaras.  O Movimento Democrático Brasileiro (MBD) era a única oposição permitida. Papai falava assim: “Esse MDB é um balaio de gatos”. Mulher corajosa era a mamãe ao deixar que eu seguisse com eles. (Ou era ciumenta?)

      Hoje, depois de tanto tempo, sempre que passo pela praia da Tabatinga, me recordo bem desses momentos. Ali foi onde presenciei a maior dessas reuniões. “Noite de breu, mas o rancho do Catarina se encheu de participantes. Valeu mesmo, né Carpinteiro?!”. O varão do velho João Barreto se animava muito nessas ocasiões. Depois...uma pinguinha ou um conhaque. A cerveja ainda não era moda. E eu? “Dá uma tubaína e um torresmo para o menino”.

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