Flor no jundu (Arquivo JRS) |
A amiga Fátima, conforme eu já escrevi em outra ocasião, tem coisas escritas a respeito desse seu parente de nome tão singular: Virgínio Rita. O Zizo ficou em dúvida se ele era irmão do Velho Rita. Eu ainda não consegui apurar nada. Mas o que importa é a sua história,
Virgínio Rita morava no bairro do Acarau. Era um solteirão já caminhando para a “ponto de devezar” (40 anos), conforme o termo do saudoso Virgílio Lopes, da Praia Grande do Bonete. Foi quando, pensando numa vida abastada, casou-se com uma senhora bem mais velha, mas que “tinha dinheiro sobrando”. Calculava o esperto que a velha fosse viver um pouco mais, mas logo morreria a deixaria tudo para ele. Afinal, ela não tinha mais ninguém por si.
Para encurtar a história, não se passou muito tempo para que o Vergínio vivesse se lamentando com os amigos:
“Eu casei por interesse e olha no que deu: a velha não morre nunca. Estando agora doente, eu tenho de fazer todo o trabalho de casa. Até colocar a mulher para tomar sol e recolher para dentro é uma tarefa que me custa. É Deus que está me castigando pelo que fiz. Vocês acreditam que até o cambucazeiro da porta da sala, de uns tempos para cá, só dá frutas rachadas?!".
Mas o Vergínio também elogiava a mulher. Ao que parece, ela era “instruída”, sabia latim, entendia de vegetais, de composição do solo etc.: “Imagine vocês que eu até já aprendi um monte de coisas nesse tempo todo de casado! Ainda ontem, sentada no terreiro, aproveitando a quentura antes do serão, olhando o carreiro de saúva, ela disse: ‘formica bestiola est’. Sabem o que quer dizer isso? Vou repetir: formica bestiola est. É latim, seus burros! É o mesmo que dizer a formiga é um inseto”. No instante, um dos que escutavam rebateu: “Burro é você! Fez o que fez da sua vida e acha que precisamos aprender outra língua para saber que saúva é um inseto? Agora, você pergunte para a sua mulher instruída se esse povo, que escreveu nessa língua estrangeira, descobriu como acabar com a peste da saúva. Isso sim é que nós precisamos saber!”.
E a prosa era encerrada, como sempre, com o pesaroso Vergínio repetindo: “É castigo de Deus!”.
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