quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

ALTERNATIVAS DOMÉSTICAS

Praia do Perequê-açu: peixe morto no lagamar  e aratu longe do mangue  (Arquivo JRS)


     Eu me assusto vendo todo esse avanço tecnológico “alardeado ao som de trombetas”. Me causa mais angústia ver tantas incoerências na relação entre tecnologia e qualidade de vida. Prova disso está nas lanchas, nos jet-skis barulhentos, perigosos e poluidores das águas, nas embalagens descartáveis por todo o espaço que nos rodeia, na diversidade de lixo nas “límpidas areias”, nas pessoas encantadas por seus aparelhinhos portáteis, etc. É lógico que me refiro ao ambiente próximo, sobretudo na temporada, quando a situação fica medonha! Duvido de que na maioria dos lugares a coisa seja muito diferente!

     Quem nunca viveu as oportunidades de constatação das maravilhas da engenharia humana?! Dói perceber que uma imensa parcela da humanidade é deixada de lado no gozo das vantagens do progresso. É essa parcela o sustentáculo de tais avanços tecnológicos discriminatórios, que se justificam em afirmativas do tipo: “É preciso ter ricos e pobres”, “Vai ser sempre assim”... Será um conformismo para justificar a nossa apatia e falta de compromisso com a realidade, de não perceber que a tecnologia, quando se alia à vontade política, pode ser a grande aliada na preservação ambiental?

     É muito complexo o tema Preservação Cultural. Talvez seja mais correto a denominação de Valorização de Culturas. O primeiro tema deste texto era Alternativas Domésticas para o Viver Caiçara. Foi escrito há bastante tempo como tentativa de busca de aliados para a causa dos pescadores caiçaras, mostrando horizontes viáveis para um mundo melhor para todos. Portanto, são caminhos encontrados pelo próprio grupo cultural, mas que estão abertos às contribuições externas que não sejam afrontas ao viver  cultural específico dessa cultura que se formou entre a serra e o mar. É todo um processo que requer muita ponderação. Trata-se de reconhecer e de aprender com a cultura específica de um lugar, de não persegui-la recorrendo a tantos artifícios.

     A problemática da situação atual dos pescadores caiçaras é delicadíssima. A fala do Chico Lopes está nessa preocupação existencial: 

     “Hoje, se nos tirarem o emprego, se acabar as atividades que geram dinheiro para nós, o que é possível fazer? Voltar para a terra e cultivar poucos poucos poderão fazer. Caçar é um dilema, principalmente porque há poucos animais. Que ninguém pense que o mar está aquela fartura!".

     A simplificação dos problemas feita pelo Chico é reflexo de existência prática, de quem está à mercê de empregos que garantem só sobrevivência do momento. Ou seja, insegurança total. Foi-se o tempo em que o mar era a garantia de uma certa tranquilidade. Há um conjunto de atitudes que podem “salvar o mar”, garantindo um ambiente saudável, capaz de voltar a ter vida em abundância, de garantir peixes, crustáceos e uma infinidade de frutos para todos. Para isso, a sabedoria antiga diz:
     “Tem tarefa que a gente faz sozinho e tem aquela que a gente faz em pitirão”.

     Pitirão vem de pitirum, na língua tupinambá. Trata-se de mutirão. É isto: precisamos entender e juntar mais gente para encaminhar as medidas que possam reverter um quadro bastante danoso ao povo deste lugar chamado de Ubatuba. As alternativas podem estar mais próximas do que imaginamos!

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