Canoas do tio Aristides Félix, o Caneco (Foto: Anita) |
Os caiçaras mais antigos sempre souberam das épocas em que apareciam a diversidade de pescados em nossas praias e largos. Por isso sempre estavam às voltas com novas linhadas, preparando espinhéis, emendando e remendando redes etc. Assim diziam: “As águas estão esfriando...Logo logo chegam as tainhas”. “De agora pra frente, chegando o tempo quente, o peixe-porco e o baiacu enchem o largo”. “É tempo de mergulhar para pegar preguaís”.
No começo de 1970, na Praia do Perequê-mirim, papai , o Carpinteiro, Vicente Preto e Angelino Barreto estavam se preparando para pescar baiacu. A “pegadeira” estava perto da costeira, entre as praias da Dionísia e Flamengo. Papai recomenda ao Vicente:
- Vamos levar duas poitas e mais corda porque baiacu é peixe danado. Tem dentada forte. Ele corta mesmo!
- Que nada, Carpinteiro! Até parece que um peixinho assim é capaz de cortar corda de poita!
- Corta sim! Ainda mais quando tem muito! Isto quem afirmou foi o Angelino.
Só sei que na pressa, saíram assim mesmo. E lá se foram os três remadores no sossego daquela tarde distante, o mar parecendo uma lagoa de tão parado que estava.
Assim que chegaram já começaram a puxar peixes. “Era cada bitelo!”. De repente, reparando na posição das pedras da costeira, o meu pai diz:
- Pronto! Já cortaram a corda! Estamos rodando.
Vicente, que estava na proa, puxou a corda. Estava leve. Só um toco.
- E agora?
Papai tinha a solução:
- Agora temos de ir até a costeira, pegar um cipó e uma pedra e voltar a pescar.
E assim fizeram. Angelino escolheu um cipó amargo de coroanha. Não demorou muito para voltarem ao mesmo local, próximo de uma laje escondida, bem "na cabeça" do cardume. Novamente, no “melhor da festa”, eles enxergam o cipó boiando. Aí o Angelino esbraveja:
- Agora sim! Acabou a pescaria!
E o Vicente Preto, meio desajeitado, diz:
- Mas até cipó eles não perdoam?!
Huahuahuahua boa!
ResponderExcluirSeus textos me fazem voltar no tempo! Parabéns meu amigo! E muito obrigado por nos proporcionar a alegria de relembrar um tempo maravilhoso de nossa Ubatuba, nosso povo caiçara tão querido, nossas tradições e cultura... Que saudades daquela Ubatuba dos caiçaras com seu modo simples de viver, sem pressa, sem ganância...
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