Urutau . Foto do Titio (Arquivo Promata) |
Visitando a página do grupo de observadores de pássaros do Sertão da Quina (Promata), me reencontrei com as lembranças de um pássaro da noite por nome de urutau, também chamado de mãe da lua.
Na década de 1960, na nossa casinha de pau a pique, quase na Badeja do Tio Custódio, juntamente com as revoadas de morcegos, tinha início os pios dos pássaros da noite. Era curiabô, era coruja, era urutau... Sapos e grilos também marcavam presença, se alternavam nas previsões do tempo: o coaxar era chamado de chuva; o cricrilar anunciava tempo seco.
A cada piado na noite, inclusive de cobra, quase sempre se seguia uma história. Mamãe contava muitas; papai se lembrava de algumas.
Dos sapos, o mais assustador era o chamado por todos de entanha. Parecia um uivo na noite.
De todas as corujas, uma que até hoje nunca descobri seu nome, imitava choro de criança nova. Nem sei da aparência dessa ave. Só sei que era de tremer ficar escutando tal lamento em qualquer noite no morro da Fortaleza, no meu tempo de menino. Eram raros os barulhos que não me causavam sobressaltos, tremedeiras e encolhimentos naquele tempo.
O urutau, ave tão difícil de se ver, era sinal de mau agouro. Um dos piores agouros! Ao escutar seu sinal, um canto melancólico, lembrando uma gargalhada de dor, a minha mãe falava: “Urutau, teu pai morreu! Que me importa! Urutau, tua mãe morreu! Que me importa!”.
O nosso mundo era repleto de assombrações.
O mundo todo era encantado.
E a vida ainda não era passado.
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