Mosaico - 01 (Arquivo JRS) |
No
ano de 1991, a colega Carmen Calvente, exercendo o magistério na Ilhabela,
desenvolveu uma pesquisa com os caiçaras, onde alguns aspectos foram a base do
seu mestrado na área de Geografia do Turismo, pela USP. Mesmo depois de duas décadas, continua sendo uma
contribuição ao momento do litoral norte paulista.
Aproximadamente
80% da Ilha é Parque Estadual de Ilhabela, uma outra parte é área tombada e o
restante deveria estar protegida pela Lei do Uso do Solo Municipal. Se existem
alguns grandes projetos embargados pelo Parque, sempre vai ser a maioria pobre,
o morador local, um alvo mais constante
e fácil para as ações punitivas. A Lei do Uso do Solo tem sido utilizada, de
acordo com o relatado, como instrumento de poder pelas administrações municipais. O decreto do Parque, da década de
70, foi feito sem levar em consideração o morador local, representado para a população nativa, uma
invasão de um território utilizado há várias gerações.
Há
duas maneiras possíveis de encarar a questão da população local em áreas de
conservação. Uma maneira, a mais fácil, é pensar na população local como o
principal inimigo da conservação e ter como projeto retirar essa população ou
pensar em educá-la para obrigá-la a conservar. Uma outra maneira, com certeza a
mais complexa, é pensar nessa população local e sua necessidade de
sobrevivência dentro do mesmo processo histórico que trouxe a destruição
ambiental sem precedentes encontrada hoje, e, encarar essa população como
composta por sujeitos ativos, que podem participar, com seu conhecimento e
territorialidade, num diálogo pela conservação desse espaço.
É
importante ressaltar que, no litoral norte de São Paulo, neste século [XX], o grande impacto ambiental
foi trazido pela chegada do equipamento turístico. Não há como questionar a
necessidade de conservação, mas esta necessidade não surgiu porque os caiçaras
ocupavam o território de maneira tradicional, e sim pela lógica da cultura
urbana e a procura de espaços turísticos, que se transformaram em mercadorias
de alta rentabilidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário