Depois da caminhada, um merecido descanso na Justa (Arquivo SB)
Parafraseando tantos proseadores do meu entorno, caberá aos líderes mundiais renunciar aos recordes desenvolvimentistas a fim de salvar a vida do planeta, as nossas vidas. De resto, na inevitabilidade do Cosmos, as pesquisas seguem vasculhando as imensidões infinitas em busca de evidências de vida em outros planetas. Será que isso significa"jogar a toalha”, reconhecer que o nosso poder de autodestruição é incontrolável?
Constatando tantas irregularidades, tantas depredações e descasos, ponho me a refletir a respeito da realidade que me acolheu e aquela que ficará para as futuras gerações. Onde bebíamos água, só para dar um exemplo, hoje escorre um filete encardido. Os locais de lazer, descanso e faina pesqueira (ranchos, varais de rede e de secagem de peixe), salvo raras exceções, ficam atualmente dentro de muros. A moral vencedora é: “Se eu não fizer, outro faz”. Assim se multiplicam as ocupações e construções irregulares, os comércios clandestinos (ou “legalizados”) nas praias ou pelas calçadas etc.
É pensando em combater a desesperança, diante de nossa pequenez nessa possibilidade de mudança dessa realidade social, que eu me pego escrevendo. As memórias são pistas para revisões de vida e de rumo. Há uma indústria que passa imperceptível para a maioria. Jogam pesado, mas quem vê isso? Ao ver tantas pessoas, sobretudo crianças e jovens, encantados por um simples celular, recordo-me da velha Tia Izolina: “Fizeram de nosso lugá um pinico. Só tá fartando cagá em nós”. Ela fazia referência ao loteamento que começava a dominar a Praia do Pulso, as alterações no Rio Maranduba e as construções que nasciam sacrificando abricoeiros e amendoeiras em Ubatuba, “onde nasceu e se criou”. Parece que a outra parte da profecia da titia está ocorrendo na atualidade.
É todo um regime ambiental que se altera - e assusta! Assim, começar a tomar gosto pela possibilidade de recuperar antigos hábitos culturais pode ser um primeiro passo para reequilibrar a nossa vivência. Ler, reler, discutir as notícias e as situações, rever nossas concepções, produzir e reproduzir reflexões, marcar posições com iniciativas em prol da vida é preciso e pode ser o princípio de nova condição de qualidade existencial.
A ferramenta principal são os meios de comunicação. Só não podemos ser encantados pelo “canto da sereia”, né? Gosto de lembrar do Filhinho dizendo que, no início do século XX, “as malas postais chegavam nos dias pares e subiam [a serra, em direção ao Vale do Paraiba] nos ímpares, alternadamente, transportadas por estafetas que as levavam nos ombros, caminhando a pé, de Ubatuba a São Luiz do Paraitinga, dispendendo doze horas num percurso de nove léguas, por uma trilha pedregosa que em outros tempos havia sido estrada de tropas para servir a zona norte de São Paulo [...] Cartas e jornais chegavam sempre com cinco ou seis dias de atraso. Quando chegava... Havia, porém, para os casos aflitivos ou de urgência, o Telégrafo Nacional, que nos atendia em rápidas e lacônicas mensagens”.
Sendo assim, utilizando bem esta ferramenta, que tal fazer o percurso da Trilha do Telégrafo? De assumir a defesa de uma Reserva Caiçara entre as praias do Puruba e Justa?
Nenhum comentário:
Postar um comentário