É serão, vem a noite - Arquivo JRS |
Acordei com a parte da música Capim Guiné, de Raul Seixas, que diz "nem um pé de passarinho veio a terra semear". Então me veio à mente o tanto de gente que tem uma sensibilidade com a terra e as plantas, que sempre está fazendo algo de bom para cultivar árvores frutíferas para nós, às aves e aos animais. Gente que passa por nós e faz questão de prosear nesse tema, dar sugestões que melhoram o nosso desempenho, traz mudas etc. Adoro esse pessoal!
Dias desses, um senhor, empurrando uma bicicleta, se deteve na beira da via e comentou: "Pelo jeito o senhor gosta de plantar. Tenho umas mudas lá em casa, posso lhe dar. O senhor aceita?". Prontamente disse que sim. Estabelecemos nova amizade. Não é bom isso? O nome dele é Altair, sempre foi da roça. Está chegando aos oitenta anos e continua trabalhando para os outros, cuidando de chão que não lhe pertence. Em poucas palavras ele resumiu o seu percurso de lavrador: "Sempre trabalhei na roça, mexendo com cultivo e animais. Por muito tempo fui empregado do Novaes, trabalhei na fazenda dele. Agora, tem poucos anos, a terra foi comprada por um estrangeiro. Fiquei desempregado, mas nunca parei de fazer o que eu fiz a vida inteira". Passado uns dias, lá vem o Altair com várias mudas. Adorei. E tome mais prosa sobre plantação, costumes etc. É assim que eu vou estabelecendo amizades prazerosas, de olhares, gestos e falas cativantes; não deixando de continuamente aprender com quem tem vivência intensa com a natureza.
Altair. devido ao sistema no qual vivemos, precisa continuar servindo aos outros, pois apenas um lote lhe pertence. Quantos nem isto têm? Sei que muitos trabalhadores do campo, por injustiças várias, migraram para as cidades, continuam sendo explorados e vivendo em péssimas condições. Eu conheço uma grande quantidade levando a vida assim, sobrevivendo "aos trancos e barrancos". Por isso é louvável os esforços de grupos organizados, de políticos comprometidos com as questões fundiárias, com a reforma agrária. Terra é para quem trabalha. Finalizo com a frase do estimado alfaiate caiçara Isaías Mendes: "Nesta terra, plantando dá. Não plantando, dão". O meu mais recente amigo planta e dá. Vida longa a ele é o que desejo.
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