Entre arames - Arquivo JRS |
Neste momento, passados sessenta anos do Golpe Militar, faço questão de transcrever um testemunho do Washington de Oliveira, o Seo Filhinho, relacionado à já citada noite de trevas, à escuridão que atendia, sobretudo, interesses externos, de determinadas nações que ainda querem explorar a classe trabalhadora brasileira, o nosso povo, as riquezas deste Brasil. Na época, na ocasião do Primeiro de Abril que fechou as portas democráticas, o nosso farmacêutico caiçara era presidente da Câmara Municipal. Por aqueles dias precisou se ausentar da cidade para fazer uma cirurgia, deixando um aviso na porta da farmácia: "Por motivo de força maior, esta farmácia ficará fechada por alguns dias". Imagine o alvoroço, as interpretações, os temores de que o braço militar houvesse chegado à nossa pacata localidade. E chegou!
De acordo com o Seo Filhinho, "foram levados pela polícia o chefe político Verano Damas, o Antônio Barbosa, vulgo Antônio da Barra, o Amaro do Bar, o Benedito Livramento, o João Theófilo - vulgo João do Campo - e o Benedito Fragoso - vulgo Filhinho. (...) Em Santos, foram levados à presença de um delegado de cara fechada, voz forte, gestos largos:
- Vocês, hein, caiçaras de meia-pataca, comunistas! Vocês ao menos sabem o que é ser comunista?
- Mas nós, doutor, não somos comunistas... - atreveu-se interromper um deles. Nós somos veranistas...
- Veranistas?! Cínicos e atrevidos é o que vocês são! Ainda têm a coragem de vir aqui com essas caras deslavadas dizer-me que são veranistas?
- É sim, doutor. Nós somos aqui do grupo do Verano... Somos veranistas...
No dia seguinte seriam recambiados a Ubatuba".
É isto: cultivemos também as tristes memórias políticas para que elas não voltem a acontecer. Ninguém merece retornar à escuridão, ser direcionado, reduzido a um reles analfabeto político.
Feliz daquele que teve a oportunidade de se acomodar na Praça da Matriz e ouvir as prosas do Seo Filhinho!
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