Pedro era o nome dele. Há anos viera da cidade de Piquete para ficar mais perto do mar, experimentar outra rotina diferente daquela de viver no Vale do Paraíba, divisando com o Sul de Minas. Escolhera, dentro das possibilidades, de viver no bairro do Ipiranguinha, onde nos conhecemos. Éramos vizinhos nesses anos todos.
Pedro era o nome dele. Trabalhara por anos, na sua cidade natal, na Indústria de Material Bélico do Brasil (IMBEL). Em Ubatuba, desempenhava a profissão de jardineiro num condomínio de luxo no Morro das Moças, onde era admirado pela sua dedicação profissional e companheirismo. Ele também fazia uns bicos como pedreiro.
Pedro era o nome dele. Junto com Dorinha e Pedrinho formavam uma linda família, eram estimados por todos nós. Dele, numa ocasião, enquanto eu cuidava das plantas na calçada de casa, escutei a seguinte história que deveria nos conduzir a sérias reflexões, sobretudo a respeito dos direitos trabalhistas, dos descasos com a vida dos operários, das condições insalubres:
“Durante muitos anos eu trabalhei naquela fábrica de armas, de produção de pólvora e mais coisas. Eu fazia parte de uma equipe de serviços gerais. Éramos, mais ou menos, trinta companheiros nessa função. Dias desses, ao saber da morte de um ex-colega da fábrica, parei para pensar, fui colocando na conta o tanto de antigos companheiros que se foram antes dos sessenta anos. Sabe que mais de vinte já faleceram, Zé? Será que essa situação tem a ver com o ambiente de trabalho dentro da fábrica naquele tempo?”.
Não passou muito tempo para o Pedro também adoecer. De um dia para outro desapareceu aquele homem forte, animado para as atividades da comunidade. Emagreceu, amarelou; definhou rapidamente. Fui pesquisar sobre a citada fábrica.
Dentre os diversos produtos comercializados pela IMBEL®, alguns deles de emprego dual, destacam-se: Fuzis de Assalto e carabinas 5,56 IA2; pistolas de diferentes calibres e características; facas; Sistemas de Abrigos Temporários de alto desempenho (SATi), nas versões de Campanha e Defesa Civil; equipamentos-rádio; Sistema computadorizado para direção e coordenação de tiro de artilharia; munições de grande calibre para morteiros, canhões e obuseiros; emulsões e explosivos diversos, iniciadores e demais componentes.
Era Pedro. Para nós ficou a memória de uma pessoa decente, exemplo de cidadão na vida comunitária. Perdemos um amigo sincero, que cultivava plantas e amizades; que se devotava à família. Lembrei-me agora da música Pedro Pedreiro, de Chico Buarque. Dela vem a minha homenagem ao amigo Pedro:
Pedro não sabe, mas talvez no fundo
Espere alguma coisa mais linda que o mundo
Maior do que o mar
Mas pra que sonhar
Se dá o desespero de esperar demais
Pedro pedreiro quer voltar atrás
Quer ser pedreiro pobre e nada mais
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