Caiçaras de outros tempos em dia de festa (Arquivo Yolanda) |
Grande Isaías (Arquivo JRS) |
Olhando algumas imagens, reparei nas vestimentas dos caiçaras de
algumas décadas passadas. As roupas melhores eram as “de domingo”. As
“de trabalho”, quase sempre com remendos sobre remendos, eram as
usuais, do cotidiano, quase sempre feita pela mãe ou avó. Assim,
quando se avistava alguém vestido melhor, logo se dizia frases do
tipo: “Vai à missa, né?”, “Hoje é dia de ir ao médico?”,
“Onde é o casamento?" etc.
Ter
charme era poder encomendar uma roupa sob medida, no alfaiate, no
centro da cidade. Além do famoso Isaías Mendes, pai do Júlio,
tinha também o seo Queiroga, pai do Francisco. O ateliê do Isaías
era na rua Jordão Homem da Costa, entre a Casa Fernandes e o Bazar
Nice, loja onde comprávamos materiais escolares, decalques etc. Somente uma vez adentrei
na Mendes Alfaiataria, quando estava acompanhando o saudoso tio João,
que portava uma peça de tergal verde para uma calça boca de sino.
Mais ou menos assim foi a conversa, após o exímio alfaiate ter lhe
tirado as medidas: “Quanto de boca você quer?”. “Trinta e
cinco centímetros o senhor acha que tá bom?”. “Acho que sim, é
daí até quarenta e cinco que os outros mais pedem”. “Então tá
bom. Quando fica pronto?”. “Olha, eu tenho muito serviço na
frente, mas pode passar depois de sete dias, para a semana. Acho que
até lá já terminei”. “E quanto fica tudo?”. “Para você eu
vou cobrar cinquenta cruzeiros: metade agora e metade quando vier
buscar. Tá bom assim?”. Em seguida eu vi o titio tirando aquelas
notas bonitas trazidas embrulhadas num lenço amarelado e pagando a
referida parcela. Fiquei impressionado pelo ambiente de trabalho
daquele alfaiate, com tudo bem arrumado e com umas peças de tecidos
que eu nem imaginava que existiam. Também em impressionou a
seriedade nas negociação, nas anotações das medidas etc. Meses atrás, contemplando o Isaías assistindo uma apresentação popular, me
recordei de tudo isso, das lembranças da minha meninice, quando o
sonho era: “Ah! Como eu gostaria de ter uma calça feita por ele!”.
Fazer roupa tinha um ritual marcante. Na verdade, tudo seguia rituais que davam maior importância aos objetos e às pessoas,
sem as banalizações corriqueiras e notórias da atualidade. Talvez por isso as
alfaiatarias foram fechadas e os alfaiates se recolheram aos seus lares.
Hoje,
prestes a completar mais um aniversário, que o ano próximo e mais um ano de vida sejam maravilhosos ao
alfaiate Isaías, aos seus familiares e a todos nós.
Nenhum comentário:
Postar um comentário