Mariposa azul (Arquivo JRS) |
"Cedo ou tarde, o oceano do tempo nos devolve as lembranças que enterramos nele" (Carlos Ruiz Zafón)
Uma amiga que me conhece muito
bem vive recomendando: “Você deveria procurar um
especialista, tipo psicólogo, para resolver alguns embaraços da sua
cabeça”. Será mesmo? “É bom, amigo. Gente assim se
preparou para isso, pode orientá-lo para viver melhor, sem se
angustiar por coisas desnecessárias”. Então fui.
Cheguei ao local do atendimento
faltando dez minutos antes do horário marcado (dez horas, de um dia
ensolarado). Um grupo de quatro pessoas já se encontrava ali
conversando, amizade antiga talvez. Imaginei que eles seriam
atendidos antes, pensei que me atrasaria nos outros compromissos.
Assim que avistou o relógio em meu pulso, um deles perguntou:
- Que horas são, senhor?
- Quase dez horas.
- Ah, bom. A nossa atividade será
às treze horas, mas a gente chega antes para conversar um pouco.
Me admirei do adiantamento
deles, não me lembro de ter visto nada igual antes, mas tudo bem.
Olhando umas mensagens no celular, mesmo sem nenhum esforço, fui
acompanhando o papo dos amigos (três mulheres e um homem).
- Em que mês nós estamos?
- Agosto, né?
- Não, acho que já é setembro.
Na dúvida, se voltam para mim.
Afirmo que é dezembro.
- Já é dezembro?!?
- Então logo é Natal!
O homem, rapaz novo:
- O meu filho faz aniversário
antes do Natal, em março, no dia seis.
E acrescentou:
- Eu também faço em março, dia
dezesseis ou vinte e cinco, não lembro mais.
Nossa! Pensei: essa gente
precisa de ajuda mesmo! De repente, uma das mulheres, longe de ser
magra, olhando para a outra sentada na cadeira da frente:
- Eu era gorda como ela, mas
agora emagreci de perder roupas.
E eu escutando tudo. Logo, a
outra, se referindo à colega ao lado :
- Ela tem menos de trinta anos,
mas o marido diz que ela é fria. Quem me contou foi ela mesma.
Nossa! Será que estou escutando
isso mesmo?!? O assunto estava bom, eles variavam. O grupo estava
tão concentrado que nem percebeu o momento que fui chamado para a
consulta. Ainda na porta, olhando para quem me recepcionou, eu
hesitei: “Será que eu preciso mesmo? É bom se cuidar, né? Ainda
bem que eu vim!”
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