terça-feira, 11 de junho de 2019

PEIXE É MATO! TÁ PULANDO NO LAGAMÁ!

Aguardando (Arquivo JRS)

Espreitando (Arquivo JRS)


               Olhando o mar com a minha companheira, a enseada de altos e baixos onde tantos sinistros já foram registrados, avisto cardumes.  É tempo deles: fogem do frio em busca de águas quentes. Vêm do Sul; correm do inverno. “Tá vendo lá? Lá longe, no rumo da Ponta do Patieiro, onde tem gaivota rodeando? É um cardume! Olha lá outro! E lá! E lá também! Nossa! Quantos cardumes!”.

               Quantas vezes, logo cedo, na hora do café, aparecia alguém para alvoroçar a manhã com a boa notícia: “O peixe é mato! Tá pulando no lagamá!”.  Novamente, neste espírito de aguardar os cardumes que estão encostando, faço questão de registrar mais uma contribuição da Idalina Graça:

               Madrugada. Adonias, moreno pescador da Praia de Iperoig, sorria para mim enquanto seus braços robustos empurravam a pequena canoa. Eis que parte e cada remada nas ondas vem acompanhada pelas frases soltas, sonoras e belas, que o vento caprichoso reparte comigo. Aqui está o que cantava:

               Na madrugada dourada
               pela luz de um novo dia,
               bem à beira do caminho,
               a casinha emoldurada,
               de alecrim e rosmaninho,
               dorme tranquila e suave,
              enquanto perto se escutam
              gorjeios de passarinho.
                                                
              Por fim a porta se abre,
              um pescador vem saindo.
             Sonda o mar, namora a onda,
             pois o sol já vem surgindo.
            Olha o céu, murmura a prece,
            dá graças ao criador
            e empurra a canoa,
            vai cantando com ardor.

           A noite vem caindo.
           As estrelas aparecem
           iluminando o céu,
           no murmúrio de uma prece,
           quando retornando ao lar,
           o alegre pescador
           traz peixe em sua canoa
           cortando as vagas com amor.

           E ele, o homem do mar,
           se ajoelha na areia,
           o seu olhar vai buscar
           nas nuvens a lua cheia,
           que nessa hora se esconde
          para não turbar a prece
          do pescador que retorna
         quando o dia amanhece.


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