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Olhando
o mar com a minha companheira, a enseada de altos e baixos onde tantos
sinistros já foram registrados, avisto cardumes. É tempo deles: fogem do frio em busca de águas
quentes. Vêm do Sul; correm do inverno. “Tá
vendo lá? Lá longe, no rumo da Ponta do Patieiro, onde tem gaivota rodeando? É
um cardume! Olha lá outro! E lá! E lá também! Nossa! Quantos cardumes!”.
Quantas
vezes, logo cedo, na hora do café, aparecia alguém para alvoroçar a manhã com a
boa notícia: “O peixe é mato! Tá pulando
no lagamá!”. Novamente, neste espírito
de aguardar os cardumes que estão encostando, faço questão de registrar mais uma
contribuição da Idalina Graça:
Madrugada. Adonias,
moreno pescador da Praia de Iperoig, sorria para mim enquanto seus braços
robustos empurravam a pequena canoa. Eis que parte e cada remada nas ondas vem
acompanhada pelas frases soltas, sonoras e belas, que o vento caprichoso
reparte comigo. Aqui está o que cantava:
Na madrugada
dourada
pela luz de um novo dia,
bem à beira do caminho,
a
casinha emoldurada,
de
alecrim e rosmaninho,
dorme tranquila e suave,
enquanto
perto se escutam
gorjeios de passarinho.
Por
fim a porta se abre,
um
pescador vem saindo.
Sonda o mar, namora a onda,
pois
o sol já vem surgindo.
Olha
o céu, murmura a prece,
dá
graças ao criador
e
empurra a canoa,
vai
cantando com ardor.
A noite vem caindo.
As estrelas aparecem
iluminando o céu,
no murmúrio de uma prece,
quando retornando ao lar,
o alegre pescador
traz peixe em sua canoa
cortando as vagas com
amor.
E ele, o homem do mar,
se ajoelha na areia,
o seu olhar vai buscar
nas nuvens a lua cheia,
que nessa hora se esconde
para não turbar a prece
do pescador que retorna
quando o dia amanhece.
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