Araçá-buia - noção do tamanho (Arquivo JRS) |
Preciosas sementes (Arquivo JRS) |
Gente é assim! Gente nasce numa família
enraizada num lugar, com a sua cultura. Essa cultura é a nossa cultura, a nossa
herança. É o nosso capital cultural inicial! Com o passar do tempo, só vamos
acrescentando, recebendo novas contribuições, reordenando nossos rumos, definindo novas diretrizes. Ao que parece, podemos ser fiéis aos nossos princípios ou
adotar outros contrários até mesmo a nós mesmos, que beneficiam poucos e
destroem comunidades.
Essas comunidades são minorias,
têm pouca ou nenhuma representatividade. Portanto, estão mais fragilizadas no
sistema político e econômico. Sendo assim, facilmente se deixam enganar por
interesseiros religiosos, políticos, imobiliários etc. E tem gente que também se
aproveita de aspectos culturais das comunidades. Eu conheço gente nossa que diz apoiar a nossa cultura caiçara, mas abraça abertamente políticos que sempre
barraram iniciativas populares, de apoio às comunidades; que aprovam leis
facilitadoras aos exploradores, aos destruidores das nossas condições ambientais etc. E pior: fazem
discursos que vão na direção de manter os privilégios de poucos e pioram a
situação dos mais pobres! O discurso a seguir ajuda a entender melhor o rumo da
prosa:
“É
o seguinte, meu amigo: esse pessoal que mora ali há muito tempo não tem
documento da terra. Alguém é dono, tem provas legais. Pelo visto, tudo aquilo
vai virar loteamento. Quem estiver morando, caso tenha dinheiro, poderá comprar
seu lote. Logo começa o serviço topográfico, as vias serão demarcadas e as
máquinas entrarão em ação. É o justo”.
Na posse daquela caiçara que
nasceu e sempre viveu ali, eu encontrei o araçá-buia (também chamado de
araçá-boi), recolhi três discretamente, esperei amadurecer e agora tenho as
sementes. Elas certamente se desenvolverão em outros espaços, mas o seu lugar
de origem, o terreno onde peguei as frutas, tem tudo para ser um local estéril,
uma periferia abandonada, com lixos e esgotos que não fornecerão mais sementes,
nem raízes, nem palmitos... Seus rios límpidos serão canais sujos. Seus filhos
serão marginalizados de uma forma mais cruel. Entende agora o que é opção
cultural? Depois não adianta reclamar que essa juventude nega a nossa cultura, não
quer nem escutar os nossos causos etc. Nem adianta cantar, fazer dancinhas pra
lá e pra cá, mas ser contra um enfrentamento real dos políticos da elite, dos especuladores
e seus comparsas que aí estão atuantes. Na verdade, por ingenuidade e falta de reflexão - ou mau caráter! -, podemos estar aliados a esses
princípios que matam culturas, que matam a nossa cultura caiçara, que nos mata.
O que vemos é um massacre contra
as nossas riquezas (via ideologia, via poder de polícia...). E assim
desaparecem as matas e suas diversidades. Desaparecem nossos conhecimentos! Há quem diga ainda que isso é justo!?
Nenhum comentário:
Postar um comentário