sábado, 22 de junho de 2019

AULA NO SERTÃO



Aula no sertão (Arquivo JRS)

            No dia 19 de junho de 2019, eu, a professora Alícia e a turma do 3ºA, da E.E. “Florentina M. Sanchez”, passamos uma tarde de aula muito diferente: fomos acolhidos no Ubatumirim pelo professor Elizamar e equipe local. Na verdade, fomos ao sertão da Sesmaria do Ubatumirim.  Lá chegando, me lembrei de um morador antigo, do Melentino, cujo primeiro contato eu fiz em 1981, por ocasião do censo agropecuário.

            Na ida, o motorista do ônibus, muito camarada, parou no mirante da estrada para uma sessão de fotografias. Parabéns pelo gesto! Na estrada para o sertão, Elizamar nos aguardava. Assim que desembarcamos, começamos a trilha monitorada pelo anfitrião. No início, na primeira parada, ouvimos a explanação sobre os aspectos geográficos do lugar: serras, planície, rios, mata ciliar etc. O destaque foi para as transformações constantes, pela força das águas, dos caminhos de servidão. Andamos por uma mata exuberante, ouvindo os pássaros; de vez em quando algumas casas... Beleza!

            Ao chegarmos ao acesso da área do Elizamar, outro parceiro já nos aguardava para explicar o trabalho extrativista, de plantio e de preservação ambiental desenvolvida por eles. Nesse momento valeu tudo: desde experimentar cacau até tentar subir na palmeira pupunha. Parabéns aos meninos pela empolgação. Após contato com os demais familiares, nova explicação sobre a horta, o cultivo sob a mata, a produção de energia, o banheiro de serragem, a compostagem etc. E logo ali um chiqueiro para os curiosos apreciarem, com direito a escorregão no morro.

            O momento tão aguardado foi o do lanche: polpa de jiçara (ou juçara), café, leite, bolo, mandioca, banana... Tudo delicioso! Prosas e prosas, mas o pessoal se lembrou do rio, do tão esperado banho. Alguns corajosos enfrentaram a água fria, mas logo estávamos nos despedindo para o retorno. Ainda deu tempo de uns ousados se agarrarem a uma corda e se jogarem no rio no meio do caminho. Elizamar, a companheira e a filhinha foram conosco até onde estava o motorista e o ônibus nos esperando. Muito bom mesmo! Ah! “Longe, né?!?”. Agora o pessoal sabe o porquê do professor Elizamar deixa de dar aulas algumas vezes.

            Aproveito, hoje, para dar outras informações a respeito do espaço visitado, o chamado sertão da Sesmaria do Ubatumirim. Quem se interessar, pode procurar mais detalhes no meu blog (coisasdecaicara.blogspot.com). Trata-se de uma entrevista antiga que fiz com dona Sílvia Pollaco Patural: ela e o marido, ainda jovens, vieram viver no Brasil, cultivar bananas em Ubatumirim. O título é:

Franceses sonhando em terras de Ubatuba

        De fato as terras do Ubatumirim, sobretudo as da Sesmaria, nos agradaram muito. Aí fomos acolhidos na casa da família do Manoel Leopoldo. Para a dormida nos dispuseram uma sala com esteiras e penico, onde havia um montão de sapê secando. Era um calorão de janeiro; baratas passeavam por todos os lados. Ao abrirmos a porta para a entrada de frescor, também entraram os cachorros. Mesmo assim, nós, de tão cansados, desmaiamos. No dia seguinte fomos conhecer a Sesmaria, dos Nunes Pereira. Gostamos muito. Ainda bem que a volta para a cidade foi de canoa.
        Chegando à cidade, logo procuramos nos informar sobre a situação legal daquelas terras. Quem nos deu segurança e nos garantiu da propriedade dos Nunes Pereira  foi o coronel Ernesto de Oliveira, pai do “Filhinho” (da farmácia). Satisfeitos e cansados embarcamos no ônibus para Taubaté. A viagem durava na média de quatro horas, mas o tempo tinha de estar bom, sem chuva, senão...
        Após um breve período fizemos a segunda viagem para o Ubatumirim. Desta vez a noite nos alcançou na praia da Itamambuca. Novamente pedimos pouso, mas as condições estavam tão críticas, enquanto que o luar e a noite estava tão convidativos, que acabamos pegando uma  humilde coberta que nos ofereceram e fomos dormir nas areias da praia. Jean-Pierre somente ajeitou os “travesseiros” com a própria areia. Só sei que acordamos no dia seguinte com o sol brilhando e a maré quase nos alcançando os pés. Chegando no Ubatumirim nos reencontramos com o Mané Leopoldo e compramos a Sesmaria do Ubatumirim, que era dos Nunes Pereira. Ela distava seis ou sete quilômetros da praia. Mais tarde nós compramos mais uma posse.     Logo iniciamos a plantação de bananeiras, alcançando a marca, em poucos anos, de trinta mil pés.
        A primeira dificuldade sentida era com relação ao deslocamento, pois se perdia muito tempo indo a pé desde a cidade até o Ubatumirim. Me parece que pelo mar a distância era de vinte e dois quilômetros, enquanto que por terra, seguindo o caminho usual dos caiçaras, perfazia trinta e seis quilômetros.
        Eu trabalhava lecionando francês em Taubaté, enquanto o meu marido se dedicava com exclusividade ao nosso empreendimento em Ubatuba, pois tínhamos camaradas que precisavam ser orientados e acompanhados em seus trabalhos, senão... Dessa necessidade surgiu a ideia de se fazer um barco. Foi quando o nosso quintal em Taubaté se transformou num mini-estaleiro, recebendo as madeiras e o motor de centro-modelo Ford alemão.

        
         Após anos plantando, com vários funcionários (Dito Rolim, Melentino...), a plantação estava em franca produção, começando a dar lucro. Surgiu a necessidade de aprimorar o transporte dos produtos. Era o ano de 1958 quando compramos, na Casa Granadeiro, em Taubaté, um trator. Questão: Como trazer o trator para Ubatuba, depois levá-lo até o Ubatumirim? Solução: Desmontá-lo todinho, transportar pela rodovia e pelo mar, e, remontá-lo na roça, onde ficou definitivamente.
        Aconteceu a melhoria na estrada da Sesmaria para o trânsito adequado do trator. Para levar o trator até o bananal, Jean-Pierre abriu uma estrada de sete quilômetros, sem máquinas, apenas com foices e enxadas. No local denominado “gurita” foi preciso fazer uma ponte de madeira que fosse bem resistente para que pudesse passar o trator puxando a carreta carregada de bananas. Ele ainda ensinou um empregado chamado Freitas a dirigir o trator, dando algumas noções de mecânica; pensava, num futuro próximo, ensinar outros rapazes e montar um curso para a formação de técnicos agrícolas. Foi uma grande novidade. Era gostoso ver o trator repleto de meninos, com o meu marido passeando com eles; lotavam a carroceria. Essa condução era atrelada a um carroção que escoava toda a produção para a praia, onde um barco grande, cujo nome era Manaus,  comprava tudo”. (Observação: a entrevistada disse que a compra das terras da Sesmaria se efetivou em 1954).

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